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sexta-feira, 10 de abril de 2009

ENTRAMOS NA MÁQUINA DO TEMPO?


Seria cômico, se não fosse trágico, o embarque (ou permanência) da dita sociedade civilizada, aos remotos anos de 1500, período, segundo nos contam os registros históricos em que europeus aventureiros, tidos como desbravadores, aportaram em uma terra repleta de riquezas minerais e vegetais, mas com um incoveniente - a presença de um povo "inculto, atrasado, desprovidos de inteligência, desalmados, agressivos, não-cristãos, etc, etc...", ou seja, dispensáveis a nova aquisição da Coroa Portuguesa. Dar cabo deles tornou-se questão de honra. Não podiam atrapalhar o PROGRESSO!

E assim, utilizaram-se de facões, pólvora, gripe, sarampo, sífilis... não importava o tamanho nem a idade do ser em questão. E dessa forma, mais de três milhões deles acabaram-se assim!


É provável que você diga: já ouvi esta história mais de um milhão de vezes! -Pois bem. Leia com atenção o próximo texto e responda para você mesmo:a quantos passos estamos de 1500? e os bugreiros, colonizadores, bandeirantes... não mudaram apenas os nomes?




XICÃO XUKURU: “Ele foi plantado para que dele nasça novos guerreiros”




O dia 20 de maio é de luto para o povo Xukuru do Ororubá em Pesqueira. Era uma quarta-feira, um dia como outro qualquer da feira semanal na cidade, momento em que os índios xukurus descem de suas aldeias na Serra do Ororubá para comercializar seus produtos, comprar os gêneros que necessitam, resolver alguma pendência, etc. Nesse dia em 1998, quando o Cacique Xicão estacionava o carro na frente da casa de sua irmã, no Bairro Xukurus, um estranho se aproximou e a queima roupa disparou vários tiros assassinando o Cacique ainda dentro do veículo, fugindo o pistoleiro em seguida.
Com o Cacique Xicão, o povo Xukuru a partir dos anos 1980 retomou a mobilização por suas terras secularmente invadidas por fazendeiros. Após a participação na campanha da Assembléia Nacional Constituinte, com a expressiva liderança e atuação do Cacique, motivados pelas conquistas na Constituição de 1988, os Xukuru articulados com setores da sociedade civil, como o CIMI (Conselho Indigenista Missionário, órgão anexo à CNBB), iniciaram a retomada de seu território tradicional, reocupando áreas de várias fazendas.
A liderança de Xicão atraiu a ira dos fazendeiros, muitos deles membros da oligarquia de Pesqueira. Ele passou a receber várias ameaças de morte. Mesmo após o brutal assassinato de Xicão e posteriormente do líder Chico Quelé em agosto/2001, embora bastante abalado, o povo Xukuru continuou por meio da articulação interna, o processo de organização e mobilização pela conquista de seus direitos, de suas terras hoje reocupadas em cerca de 85%.
Por essa razão, o 20 de maio é também um dia de reconhecimento e afirmação indígena, de protesto em memória do Cacique Xicão, pela impunidade das violências contra os povos indígenas e suas lideranças. Nesse sentido, anualmente ocorre a Assembléia do povo Xukuru quando são discutidos os problemas e elegidas as prioridades de trabalho para os próximos meses. Após um ato religioso no centro da mata na Aldeia Pedra D’ Água, local em que Xicão foi “plantado”, é realizada uma grande caminhada, com a participação massiva dos Xukuru, além de indígenas de outras delegações de várias partes do Brasil, aliados e muitas pessoas solidárias com os povos indígenas, que descem da Serra do Ororubá, passam pelas ruas centrais de Pesqueira e vão até o local onde Xicão foi assassinado, onde um multidão fazem um ato público em sua memória.
A leitura da trajetória de atuação do Cacique Xicão nos faz lembrar de outras lideranças, a exemplo de Margarida Maria Alves, camponesa, líder sindical em Alagoa Grande/PB, assassinada a mando de fazendeiros nos anos de 1980, que afirmava “morro, mas não fujo da luta!”. Como Santos Dias, líder operário, assassinado pela polícia, na mesma época, durante uma greve dos metalúrgicos em São Paulo, e de tantas outras lideranças mortas na defesa de uma sociedade plural, de igualdade, justiça e dignidade para todos/as.
A persistência do Cacique Xicão, de Chico Quelé, o empenho, a luta, suas vidas e de tantos outros/as que lutaram pelo reconhecimento dos direitos indígenas, da justiça e vida plena, não foi em vão: “Do sangue de Margarida, margaridas!” e como dizem os Xukuru sobre Xicão, “ele não foi enterrado, ele foi plantado, para que dele nasça novos guerreiros!”.
Somos chamados/as para testemunhar a concretização dessas afirmações no próximo dia 20 de maio indo a Pesqueira.



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Edson Silva é professor no Col. de Aplicação/CENTRO DE EDUCAÇÃO-UFPE.
E-mail: edson.edsilva@gmail.com

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