DECLARAÇÃO DO BISPO DE PESQUEIRA
APÓS A CONDENAÇÃO DO CACIQUE MARCOS LUIDSON, LÍDER DO POVO XUKURU
Lamento muito a condenação do cacique Marcos Luidson, líder do povo Xukuru, assim como a prisão "preventiva" de Rinaldo Feitosa Vieira e a criminalização de várias lideranças do povo Xukuru.
Por exercermos a cidadania, respeitamos as decisões da justiça e a autoridade dos delegados e das polícias. A pergunta que surge, após esta afirmação de respeito, é se a justiça é exercida de forma isenta e imparcial e se as ações policiais são realizadas de forma respeitosa dos direitos humanos fundamentais, também a respeito das minorias, entre as quais incluímos os indígenas.
Não é um chavão repetir a afirmação que sempre são presos, punidos e condenados os mais pobres e os mais indefesos: é uma realidade! Como é possível condenar sumariamente uma liderança sem antes ter ouvido as testemunhas, cerceando assim o direito de defesa? Como é possível prender antecipadamente um acusado sem provas, só com o "pretexto" de que se trata de uma pessoa "perigosa"? Já declarei por escrito e reafirmo que o Rinaldo é uma das pessoas mais pacíficas que tenha conhecido e de boa família. Desde o direito romano vale o princípio que uma pessoa é considerada inocente de qualquer crime até que seja provado o contrário! Trata-se de um princípio universal, aceito em todos os códigos e em todas as culturas.
Temos a impressão que a justiça no nosso país seja um poder dentro do poder, exercido em certos casos arbitrariamente e sem nenhum controle social! Ainda numa sociedade que se proclama democrática, como a nossa, a violência policial e o desrespeito dos direitos humanos acontecem à luz do sol, deixando-nos pasmos e impotentes! Só a imprensa, às vezes denuncia de forma eclatante alguns desses abusos, e normalmente, passado o impacto da notícia, depois de uma semana a própria denúncia cai no esquecimento!
Costumo dizer, até brincando, que também os índios, como os brancos, não são isentos do "pecado original"! Se houve crimes, seja de índios como de brancos, seja de pobres como de ricos que sejam averiguados e punidos, atendendo a todas as formalidades da lei que garante para todos, brancos e índios, liberdade, defesa e apresentação de provas!
Criminalizar uma nação indígena significa minar a sua auto estima, exercer a tentativa da divisão interna de um povo e, portanto, enfraquecer a sua luta diminuindo a sua resistência diante da cultura dominante.
Há quase seis anos conheço cada dia mais profundamente o povo Xukuru. Preparamos um padre e um diácono, através de cursos especializados no conhecimento da cultura indígena a fim de atender pastoralmente e de forma inculturada esta nação indígena e sempre mais estou convicto de que a alma deste povo é pacífica, orgulhosa de resgatar a sua cultura, altaneira na defesa de seus direitos.
Por isso cheguei à conclusão que a criminalização sistemática de suas lideranças não passa de uma armação de elites incomodadas com a sua organização ou até de autoridades que, tendo encontrado limites no exercício arbitrário de seu poder, estão retribuindo desta forma, que considero desumana, injusta e prevaricatória, às atitudes que o povo Xukuru tomou, na defesa de seus direitos e de suas prerrogativas.
Faço votos que as autoridades competentes tomem as providências cabíveis e que a justiça seja exercida de acordo com os cânones do direito, isenta de todo tipo de interesses a fim de estabelecer um clima de paz e de concórdia entre a sociedade civil de Pesqueira e a nobre nação Xukuru.
Pesqueira, 28 de maio de 2009
+ Dom Francisco Biasin
Bispo de Pesqueira
APÓS A CONDENAÇÃO DO CACIQUE MARCOS LUIDSON, LÍDER DO POVO XUKURU
Lamento muito a condenação do cacique Marcos Luidson, líder do povo Xukuru, assim como a prisão "preventiva" de Rinaldo Feitosa Vieira e a criminalização de várias lideranças do povo Xukuru.
Por exercermos a cidadania, respeitamos as decisões da justiça e a autoridade dos delegados e das polícias. A pergunta que surge, após esta afirmação de respeito, é se a justiça é exercida de forma isenta e imparcial e se as ações policiais são realizadas de forma respeitosa dos direitos humanos fundamentais, também a respeito das minorias, entre as quais incluímos os indígenas.
Não é um chavão repetir a afirmação que sempre são presos, punidos e condenados os mais pobres e os mais indefesos: é uma realidade! Como é possível condenar sumariamente uma liderança sem antes ter ouvido as testemunhas, cerceando assim o direito de defesa? Como é possível prender antecipadamente um acusado sem provas, só com o "pretexto" de que se trata de uma pessoa "perigosa"? Já declarei por escrito e reafirmo que o Rinaldo é uma das pessoas mais pacíficas que tenha conhecido e de boa família. Desde o direito romano vale o princípio que uma pessoa é considerada inocente de qualquer crime até que seja provado o contrário! Trata-se de um princípio universal, aceito em todos os códigos e em todas as culturas.
Temos a impressão que a justiça no nosso país seja um poder dentro do poder, exercido em certos casos arbitrariamente e sem nenhum controle social! Ainda numa sociedade que se proclama democrática, como a nossa, a violência policial e o desrespeito dos direitos humanos acontecem à luz do sol, deixando-nos pasmos e impotentes! Só a imprensa, às vezes denuncia de forma eclatante alguns desses abusos, e normalmente, passado o impacto da notícia, depois de uma semana a própria denúncia cai no esquecimento!
Costumo dizer, até brincando, que também os índios, como os brancos, não são isentos do "pecado original"! Se houve crimes, seja de índios como de brancos, seja de pobres como de ricos que sejam averiguados e punidos, atendendo a todas as formalidades da lei que garante para todos, brancos e índios, liberdade, defesa e apresentação de provas!
Criminalizar uma nação indígena significa minar a sua auto estima, exercer a tentativa da divisão interna de um povo e, portanto, enfraquecer a sua luta diminuindo a sua resistência diante da cultura dominante.
Há quase seis anos conheço cada dia mais profundamente o povo Xukuru. Preparamos um padre e um diácono, através de cursos especializados no conhecimento da cultura indígena a fim de atender pastoralmente e de forma inculturada esta nação indígena e sempre mais estou convicto de que a alma deste povo é pacífica, orgulhosa de resgatar a sua cultura, altaneira na defesa de seus direitos.
Por isso cheguei à conclusão que a criminalização sistemática de suas lideranças não passa de uma armação de elites incomodadas com a sua organização ou até de autoridades que, tendo encontrado limites no exercício arbitrário de seu poder, estão retribuindo desta forma, que considero desumana, injusta e prevaricatória, às atitudes que o povo Xukuru tomou, na defesa de seus direitos e de suas prerrogativas.
Faço votos que as autoridades competentes tomem as providências cabíveis e que a justiça seja exercida de acordo com os cânones do direito, isenta de todo tipo de interesses a fim de estabelecer um clima de paz e de concórdia entre a sociedade civil de Pesqueira e a nobre nação Xukuru.
Pesqueira, 28 de maio de 2009
+ Dom Francisco Biasin
Bispo de Pesqueira
5 comentários:
Senhor bispo:
Antes de tudo: O Estado brasileiro é LAICO, i.e., não interfere nos negócios da sua, ou de qualquer outra igreja. Depois: José Lindomar de Santana foi executado sumariamente, no dia dos pais. Deixou esposa e filhos menores de idade. Qual a assistência que, como católicos, têm recebido da igreja, em Pesqueira? Nenhuma. Matar, além de ser pecado capital, no Brasil é crime, e crimes - por forca de lei - têm que ser punidos. Por isso houve prisões. Talvez se desejasse que a morte de José ficasse impune. Seria de bom tom, que se dissesse isto com todas as letras. Sem um 'discurso', sem chavões. Nesse país se criou um círculo vicioso de impunidade. No caso de Lindomar há um circuloso virtuoso, onde a lei positiva vem sendo valorada, aquilatada e aplicada. Nem mais, nem menos. Bom lembrar que nem um missa de sétimo dia foi possibilitada a JOSÉ. Houve essa negativa da igreja para com os seus liderados. Agora está esclarecido. Em vida, vida que Cristo lhe deu e foi surrupiada na calada da noite José fez amigos que conhecem o valor da fidelidade. Redesenhou a sua história. Resistiu. Cristo ressucitou, José ressucitará!
Senhor Anônimo,
Aconselho-te a ler as linhas e entrelinhas do processo, para que conheças sobre quais condições JOSÉ caiu. Estejas certo de que foi sobre condições totalmente distintas das quedas do CACIQUE XICÃO, DO FILHO DO PAJÉ, DE DOIS JOVENS e por pouco, do próprio Marcos, a quem se destinava as balas que mataram outros dois guerreiros.
Os contrários a essa verdade, são apenas os fazendeiros, latifúndios, políticos corruptos, ou, pessoas ignorantes!
Abç.
Sunamita Oliveira
Cara,
Tenho uma imensa vontade de conhecer as condições que possibilitaram a execução sumária de JOSÉ. Disto tenho feito a razão dos meus dias e noites. Afirmo que só conheço as que estão nas linhas dos processos. De quedas penso que entendo. Vejo-as há muitos anos e nunca consegui aceitar que o sangue de lutadores do povo brasileiro fosse tombado, por razões escusas. Todavia, não se pode imaginar que...
As circunstâncias são ou não são. Como disse, JOSÉ redesenhou a sua história. A quem incomodou? Quem precisava tirá-lo de cena?
Abç,
ANYA
Amigo Edson,
Poderiamos ajudar a mesma a responder com muita catégoria.
Informando que não há provas concretas contra os dois e que Lindomar era assassino confesso de dois crimes em São Paulo e suspeita de outros aqui. E que nunca a Igreja lhe negou o direito a missa, e a familia em si, nunca fora de frequentar a Igreja , mas os cabarés da vida os homens da familia eram assiduos frequentadores e arruaçeiros. O José Lindomar, tinha mais inimigos do que familiares, por onde passou até abusar sexualmente de menores ele abusou e havia se saido ileso, por que a justiça que agora é celere contra as lideranças, foi celere também em assaltos , mediante um crime, que se não for ediondo, deveria ser. Abusar sexualmente de crianças, além do mais pobres, é dois abusos, pois no segundo abuso, ele usou o dinheiro como força de poder para concretizar o abuso maior contra uma adolescente. É sordido acusar o bispo, pois o Estado é laico sim, mas a interpretação forçosa deste comentário, quer que um bispo que acompanha a cominidade, seja calado mediante as injustiças e além do mais seja cerceado seu direito de opinião. O bispo não pediu nada ao judiciario, mas expressou sua opinião de pastor e devfensor dos direitos de suas ovelhas. Quanto a ressurreição de Lindomar, eu não tenho dúvidas que ela possa acontecer, mas precisa que ele tenha se arrependido das mortes que causou e do abuso sexual que cometeu na sua história de vda atribulada e cheia de crimes que ele já cometera. Isso sem falar dos crimes que ele era acusado e ainda não havia sido pego.
Roberto
Algumas considerações:
1. O bispo – como qualquer pessoa – pode e deve ter opinião. E qualquer um pode dela discordar. Isso não significa que se pretenda calá-lo. As pessoas precisam aprender e se acostumar a ouvir, eis que próprio das sociedades democráticas, que são construídas a partir de um processo que envolve a dialética. Se não se esperava o contencioso, a situação é esdrúxula eis que o mundo – virtual – inclusive, é distinto de mundos, como o das missas onde os fiéis pouco falam e muito ouvem, disso decorrendo a própria circunstância de serem fiéis.
2. Acusar mortos é fácil, eles não mais falam. Ocorre bastante em plenários de Júri Popular. Como agora. Não é invulgar. Para o leitor singelo parecerá que JOSÉ era a própria figura do Anti Cristo, reencarnada. Fácil. Ele não mais está aqui para responder, como respondeu as acusações que lhe faziam em vida.
3. De não se esquecer, que no recente passado do Brasil, lutadores sociais foram acusados de assaltantes de bancos, terroristas e diversos outros impropérios, apenas porquê queriam um novo modelo de sociedade e se dispuseram, com o risco da própria vida a construir esse modelo de sociedade. Deram a vida pelos irmãos. Como JOSÉ deu a sua vida. Conduta típica de pessoas generosas.
4. Quanto à celeridade processual, esta opera de acordo e apenas de acordo com a desenvoltura profissional do patrono da parte. A inércia é princípio processual a que está vinculado o Juiz. Logo, impossível se jogar nas costas da Justiça a responsabilidade pelos percalços de um processo, seja esse qualquer processo.
5. No mais, a pena de morte parece ter sido cumprida em desfavor de JOSÉ, extra-judicialmente, claro. Sucede que no Brasil ela só existe em caso de guerra, e JOSÉ não estava em uma, nem tampouco o Brasil a declarou.
6. No mais, foi muito bom ouvir. Tenho aprendido cada vez mais a não julgar e nem adotar a arrogância como método, pois que as feridas deixadas por ela - a arrogância - são quase impossíveis de serem saradas. Com JOSÉ aprendi muito, a humildade inclusive, eis que um simples agricultor, eis que um simples índio.
7. A sua perda será sempre insuportável.
ANYA
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