"Dança dos índios tapuias, óleo sobre tela de ALbert Eckout, 1641". |
A HISTÓRIA DE GRAVATÁ QUE OS GRAVATAENSES NÃO CONHECEM - parte 1
Escreve o historiador Alberto Frederico Lins*:
" Há quatro séculos, quem viesse assomando os primeiros contrafortes e batentes da Serra Comprida, da pancada do mar para o sertão, elevadas cimeiras que chamaram de Ruças a partir do século XIX, deparar-se-ia com um povo único, dentre os que, há mais de mil anos, enxameavam das florestas litorâneas às pedranceiras das serranias. Era uma gente sofrida, chamada pelos tabajaras e guarani de bugres, canibal que procurara há mais de quinhentos anos antes, refugiar-se nas devesas aspérrimas das elevações do oeste selvagem. Eram os tapuia-cariri ou kiriri, que dominavam toda a região, a começar nos longes do norte das serras gêmeas de Passira e Bengala, até as lançantes dos brejais do Uruçu-Mirim.
Vivia da caça e da pesca essa gente combatente, violenta, destemerosa, e que, por divertimento e nas datas que lhe marcavam festivais de sangue, caçavam onças bravias nas defesas, vales, anfractuosidades e corgos ásperos da cordilheira ínvia de Pora-Pora-Eyma. Não raro, desciam as ladeiras que levam ao Uapo-Yuc, lé embaixo no vale, o Ipojuca dos quilombolas, para apanhar o carito e o muçum nas águas paradas, às vezes encontrando escravos fugitivos dos engenhos do sul, que preavam, matavam e comiam, em festanças de sacrifícios religiosos que duravam dias.
Esses pobres negros, sem saber o perigo que corriam, aventuravam-se em busca de quilombos, inexistentes por aqui, caindo na armadilha os silvicolas violentos. Não raro, algum, algum mais desesperado, entrava em luta corporal com eles, saindo vencedor na carreira pelas brenhas e indo morrer de fome e sede na baixada das caruaras, que tem agora o nome de Caruaru".
* Alberto Frederico Lins é professor aposentado, historiador, mestre em História da Cultura, ex-professor da UFPE. Reside em Gravatá há 59 anos.
* Alberto Frederico Lins é professor aposentado, historiador, mestre em História da Cultura, ex-professor da UFPE. Reside em Gravatá há 59 anos.
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