Dr. Daniel Munduruku com a Diretora de ensino Sandra Moraes |
A dinâmica da palestra realizada durante o dia 18 (quinta-feira) para aproximadamente 500 alunos, se repetiu no dia 19 (sexta-feira), sendo que na tarde do dia 19, a palestra teve como público-alvo, os professores das séries iniciais do município de Gravatá.
Não foi surpresa nenhuma (infelizmente), ouvir de uma professora a pergunta: “Se o senhor não é índio, então é o que?” - direcionada ao Profº Daniel Munduruku, mesmo depois de tê-lo ouvido esclarecer e distinguir a diferença que há entre os termos índio e indígena. A constatação de que a desinformação, a ignorância (no sentido real de falta de conhecimento), tem sido responsável por tornar a escola um veículo difundidor do preconceito e discriminação contra os povos indígenas brasileiros, ao negar-lhes de forma tão cruel a identidade étnica que lhes é devida, em toda sua amplitude sociocultural.
O Profº Daniel lembrou da postura da escola quanto a reprodução de datas como o 19 de abril, por exemplo, onde os professores elaboram o desenho de uma figura de uma criança com um pena na cabeça, com uma tanga, e pede para que as crianças coloram, seguida da música da Xuxa “índio fazer barulho”, instigando as crianças a colocarem a mão na boca para cantar, como se algum povo indígena brasileiro cantasse com a mão na boca.
Ao ser questionado sobre qual seria a forma de resolver essa questão e passar a ensinar corretamente, o Profº respondeu: “Eu dou a bala, mas são vocês que terão que descascar. O que faço, é espalhar 'piolhos' para que a cabeça de vocês coce, e isso os leve a pesquisar”.
Há alguns aspectos que temos o dever moral de registrar aqui. Primeiramente, de que houve, por parte da Secretaria Municipal de Educação de Gravatá, na pessoa da secretária Maria da Paz, da secretária adjunta Maria José e diretora de ensino Sandra Moraes, uma sensibilidade externalizada no apoio para com a necessidade de iniciarmos no município uma discussão sobre o texto da Lei 11.645/08, que torna obrigatório o estudo e ensino sobre as culturas indígenas brasileiras em todas as escolas do país. Este evento foi um avanço significativo rumo a esta questão.
Embora a secretaria de educação tenha se sensibilizado com a necessidade de abrir a discussão sobre os povos indígenas, no intuito de desmistificar a figura do indígena brasileiro, tão folclórica para a maioria, percebemos, durante a palestra do Dr. Daniel, a falta de interesse de um grupo grande de professores que estavam no recinto, em ouvir, argumentar, questionar e buscar aprender, uma vez que, o palestrante, embora tenha sempre deixado claro que não detém todo o o saber, ocupa hoje uma posição acadêmica superior a todos os demais ouvintes da plateia, além de poder falar com propriedade sobre a temática me questão.
O que foi possível ver, lamentavelmente, foram conversas paralelas em um tom mais alto do que os habituais cochichos, professoras levantando do lugar com freqüência tal qual fazem as crianças, as quais são obrigadas por elas mesmas a ficarem sentadas durante a aula; professoras saindo antes do término da palestra, provavelmente, por se julgarem detentoras de todo conhecimento necessário para continuarem propagando sua mesquinhes em sala.
Como é difícil "erradicar um preconceito", quebrar paradigmas, entre pessoas que, por terem aprendido de uma forma, mesmo que seja completamente errônea, parece não reconhecer a necessidade de reaprender. Alguns professores continuam se achando detentores de todo saber, tal qual no início da educação escolar.
Não faço aqui nenhum tipo de julgamento condenatório. Não julgo nem condeno as pessoas. Comento aqui apenas as ações, os comportamentos. Não é a crítica pela crítica, mas, uma tentativa de provocar uma reflexão, e consequentemente, mudança de atitude. Uso democraticamente este espaço criado por mim, para externar apenas um sentimento em forma desabafo, fomentado pela angústia de escutar discursos evasivos de professores, durante as formações continuadas, além das reclamações de que falta isso e aquilo, de que a educação está ruim por conta de A ou B, sem conseguirem perceber o quanto lhes falta, especialmente, educação doméstica, que permita-lhes ouvir, discordar sem perder o respeito pelo outro, mas especialmente, ter disposição para reconhecer a necessidade do reaprendizado, de passar uma borracha sobre conhecimentos equivocados e, recomeçar a caminhada rumo a um aprendizado consistente, livre de esteriótipos, como acontece quando se fala em cultura indígena. Muito pelo contrário.
A estes indivíduos que hoje ocupam uma cadeira e são chamados de professores, e que, diariamente cometem uma violência intelectual sem precedentes contra nossas crianças - que Deus tenha piedade de vós, e que lhes faça encontrar o caminho da felicidade, para que assim, possamos igualmente ser assistidos por educadores - pessoas comprometidas com a formação de nossos filhos e filhas.
Aos demais, humildemente parabenizo pela participação. Acredito que a semente que foi lançada em terra fértil, frutificará. Embora pareça clichê, acredito tal qual Freire que a educação (inclusive para os professores) poderá atenuar as disparidades existentes no país e que, embora tenhamos tanto joio nesta classe que deveria ser o "topo", também há muito trigo. Um comercial de TV afirma que "os bons são maioria". Preciso realmente acreditar nisto.
Aos educadores gravataenses, cientes e conscientes de que somos nós quem fazemos a educação, pois somos nós quem estamos na sala de aula, mais uma vez, parabéns.
Peço-lhes perdão por não ter condições de citar o nome de todos, mas, peço-lhes permissão para que, através do nome de alguns colegas, possa prestar-lhes minha homenagem. Sintam-se abraçados através da Profª Alexsandra Mary (minha diretora), do Profº Manoel (Irmã Judith), Profª Cibelle, Profª Célia, Profª Elivânia, Professoras Ana Marta, Madalena, Vanusa, Valdinalva, Geórgia, Santina, Aldenice, Alciene, Profª Dedé, Profº Lenilson Batista, etc, etc...
À Secretaria de Educação: Maria da Paz, Maía, Sandra: muito obrigada pelo apoio, mais uma vez e parabéns pela sensibilidade e compromisso!
A secretária de educação Maria da Paz não pôde participar do evento em virtude de um compromisso na secretaria de educação do estado, em Recife, mas acompanhou tudo de perto, através de sua adjunta Maria José e da diretora de ensino Sandra Moraes, que, no final do evento, presenteou o escritor Daniel Munduruku com uma tela pintada pelo artista plástico gravataense Cleuton Azevedo.
A secretária de educação foi ao hotel em que o escritor ficou hospedado para cumprimentá-lo, no início da noite, juntamente com o presidente da Academia de Letras e Artes de Gravatá, Josias Teles.
Para todos, a reflexão deixada pelo pelo Dr. Daniel Munduruku:
Há alguns aspectos que temos o dever moral de registrar aqui. Primeiramente, de que houve, por parte da Secretaria Municipal de Educação de Gravatá, na pessoa da secretária Maria da Paz, da secretária adjunta Maria José e diretora de ensino Sandra Moraes, uma sensibilidade externalizada no apoio para com a necessidade de iniciarmos no município uma discussão sobre o texto da Lei 11.645/08, que torna obrigatório o estudo e ensino sobre as culturas indígenas brasileiras em todas as escolas do país. Este evento foi um avanço significativo rumo a esta questão.
Embora a secretaria de educação tenha se sensibilizado com a necessidade de abrir a discussão sobre os povos indígenas, no intuito de desmistificar a figura do indígena brasileiro, tão folclórica para a maioria, percebemos, durante a palestra do Dr. Daniel, a falta de interesse de um grupo grande de professores que estavam no recinto, em ouvir, argumentar, questionar e buscar aprender, uma vez que, o palestrante, embora tenha sempre deixado claro que não detém todo o o saber, ocupa hoje uma posição acadêmica superior a todos os demais ouvintes da plateia, além de poder falar com propriedade sobre a temática me questão.
O que foi possível ver, lamentavelmente, foram conversas paralelas em um tom mais alto do que os habituais cochichos, professoras levantando do lugar com freqüência tal qual fazem as crianças, as quais são obrigadas por elas mesmas a ficarem sentadas durante a aula; professoras saindo antes do término da palestra, provavelmente, por se julgarem detentoras de todo conhecimento necessário para continuarem propagando sua mesquinhes em sala.
Como é difícil "erradicar um preconceito", quebrar paradigmas, entre pessoas que, por terem aprendido de uma forma, mesmo que seja completamente errônea, parece não reconhecer a necessidade de reaprender. Alguns professores continuam se achando detentores de todo saber, tal qual no início da educação escolar.
Não faço aqui nenhum tipo de julgamento condenatório. Não julgo nem condeno as pessoas. Comento aqui apenas as ações, os comportamentos. Não é a crítica pela crítica, mas, uma tentativa de provocar uma reflexão, e consequentemente, mudança de atitude. Uso democraticamente este espaço criado por mim, para externar apenas um sentimento em forma desabafo, fomentado pela angústia de escutar discursos evasivos de professores, durante as formações continuadas, além das reclamações de que falta isso e aquilo, de que a educação está ruim por conta de A ou B, sem conseguirem perceber o quanto lhes falta, especialmente, educação doméstica, que permita-lhes ouvir, discordar sem perder o respeito pelo outro, mas especialmente, ter disposição para reconhecer a necessidade do reaprendizado, de passar uma borracha sobre conhecimentos equivocados e, recomeçar a caminhada rumo a um aprendizado consistente, livre de esteriótipos, como acontece quando se fala em cultura indígena. Muito pelo contrário.
A estes indivíduos que hoje ocupam uma cadeira e são chamados de professores, e que, diariamente cometem uma violência intelectual sem precedentes contra nossas crianças - que Deus tenha piedade de vós, e que lhes faça encontrar o caminho da felicidade, para que assim, possamos igualmente ser assistidos por educadores - pessoas comprometidas com a formação de nossos filhos e filhas.
Aos demais, humildemente parabenizo pela participação. Acredito que a semente que foi lançada em terra fértil, frutificará. Embora pareça clichê, acredito tal qual Freire que a educação (inclusive para os professores) poderá atenuar as disparidades existentes no país e que, embora tenhamos tanto joio nesta classe que deveria ser o "topo", também há muito trigo. Um comercial de TV afirma que "os bons são maioria". Preciso realmente acreditar nisto.
Aos educadores gravataenses, cientes e conscientes de que somos nós quem fazemos a educação, pois somos nós quem estamos na sala de aula, mais uma vez, parabéns.
Peço-lhes perdão por não ter condições de citar o nome de todos, mas, peço-lhes permissão para que, através do nome de alguns colegas, possa prestar-lhes minha homenagem. Sintam-se abraçados através da Profª Alexsandra Mary (minha diretora), do Profº Manoel (Irmã Judith), Profª Cibelle, Profª Célia, Profª Elivânia, Professoras Ana Marta, Madalena, Vanusa, Valdinalva, Geórgia, Santina, Aldenice, Alciene, Profª Dedé, Profº Lenilson Batista, etc, etc...
À Secretaria de Educação: Maria da Paz, Maía, Sandra: muito obrigada pelo apoio, mais uma vez e parabéns pela sensibilidade e compromisso!
A secretária de educação Maria da Paz não pôde participar do evento em virtude de um compromisso na secretaria de educação do estado, em Recife, mas acompanhou tudo de perto, através de sua adjunta Maria José e da diretora de ensino Sandra Moraes, que, no final do evento, presenteou o escritor Daniel Munduruku com uma tela pintada pelo artista plástico gravataense Cleuton Azevedo.
A secretária de educação foi ao hotel em que o escritor ficou hospedado para cumprimentá-lo, no início da noite, juntamente com o presidente da Academia de Letras e Artes de Gravatá, Josias Teles.
Para todos, a reflexão deixada pelo pelo Dr. Daniel Munduruku:
EDUCAR É PARA POUCOS
Educar é um ato heroico em qualquer cultura.
Talvez seja pelo fato de que educar exija que a pessoa saia um pouco de si e vá ao encontro do outro, um outro desconhecido, um outro anônimo, um outro que questiona, um outro que confronta nossos próprios medos, nossa própria insegurança.
Talvez seja pelo fato de que educar exija sacrifício, exija renúncia de si, exija abandono, exija fé, exija um salto no escuro.
Talvez seja por isso seja algo para poucos.
Seja para pessoas que acreditam nas outras pessoas.
Seja para pessoas que não se acomodaram diante da mesmice que a sociedade pede todos os dias.
Talvez por isso, seja mais fácil encontrar professores que educadores.
Professores são donos do conhecimento.
Educadores são mediadores.
Professores são profissionais do ensino.
Educadores fazem do ensino um estímulo para seu crescimento pessoal.
Professores usam a palavra como instrumento.
Educadores usam o silêncio.
Professores batem a mão na mesa.
Educadores batem o pé no chão.
Professores são muitos.
Educadores são Um.
(Daniel Munduruku. Mundurukando. São Paulo: Ed. UK'A, 2010).
Profª Tânia, esposa de Daniel Munduruku e a secretária de educação de Gravatá Maria da Paz |
Um comentário:
Foi uma oportunidade ímpar,pois nos foi dado a chance de ver e ouvir o outro lado da história.
Profª Ana Marta Vieira
Postar um comentário