"Acreditando na magia que existe na educação! Buscando ser a mudança que quero ver no mundo"!
CONTATOS: sunamitamagalialbuquerque@hotmail.com /sunamitanativaoliveira@gmail.com

quarta-feira, 27 de abril de 2011

BRASÍLIA SERÁ PALCO DE UMA DAS MAIORES MOBILIZAÇÕES INDÍGENAS MAIS UMA VEZ: ACAMPAMENTO TERRA LIVRE

Imagem disponível no Google: Acampamento Terra Livre 2010

ACAMPAMENTO TERRA LIVRE 2011: Maior mobilização Indígena do Brasil retorna à capital federal

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) reúne em Brasília, entre os dias 2 e 5 de maio, mais de 800 lideranças na maior mobilização indígena do país, o Acampamento Terra Livre (ATL). Durante uma semana, representantes dos mais de 230 Povos Indígenas existentes, vindos de todos os cantos do Brasil, transformam a Esplanada dos Ministérios em uma grande aldeia.

Em sua oitava edição, o ATL já se consolidou como um espaço privilegiado para troca de experiências, discussão de problemas e a proposição de soluções e novas perspectivas para o Movimento Indígena. É também o momento de um diálogo franco e aberto com a sociedade e o Governo Federal, a quem as lideranças apresentam as suas principais reivindicações relacionadas com o respeito aos direitos indígenas.

Este ano, o objetivo principal do evento é debater o quadro de violação dos direitos indígenas instalado no país e reivindicar do governo compromissos concretos para a superação dessa situação. Os debates em plenário e nos grupos de trabalho temáticos abordarão temas como direito à terra (demarcação, desintrusão, criminalização de lideranças e judicialização dos processos); consentimento prévio e grandes empreendimentos em Terras Indígenas (hidrelétricas, mineração, usinas nucleares e outros); saúde (implementação da Secretaria Especial de Saúde indígena); educação diferenciada, e articulações para aprovação no Congresso Nacional do novo Estatuto dos Povos Indígenas e do projeto que cria o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI). Tratarão ainda da assinatura e publicação pelo Executivo do decreto do Plano Nacional de Gestão Ambiental em Terras Indígenas (PNGATI).

No último dia 19 de abril, a APIB encaminhou à Presidente Dilma uma carta pública que apresenta uma série reivindicações que serão retomadas durante o ATL. Clique aqui para ler o texto da carta.

No dia 4, o ATL reserva tempo para as articulações no Congresso, onde estão programadas audiências públicas, e a recepção a parlamentares, no local do acampamento, para debate com as lideranças. Também está prevista para a quinta-feira, dia 5, audiência com a Presidente Dilma e demais autoridades federais. No período da tarde, por volta das 16 horas, um ato público encerra o encontro.

Entrevista Coletiva

Para apresentar a programação e fazer um balanço preliminar da situação dos direitos indígenas, haverá uma entrevista coletiva à imprensa, no dia 2 de maio, na tenda da Plenária do evento, às 10h00. Estarão presentes dirigentes das organizações indígenas regionais que integram a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e membros do Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas (FDDI), entidade composta por organizações indígenas e entidades indigenistas, tais como Cimi, Inesc e Anai. O ATL 2011 é uma realização da APIB em parceria com o FDDI e com o apoio da Embaixada Real da Noruega.

Serviço

O que: Acampamento Terra Livre 2011
Quando: 2 a 5 de maio
Onde : Esplanada dos Ministérios, Brasília, Distrito Federal
Entrevista Coletiva : dia 2 de maio, às 10hs na Tenda Principal/Plenário
Assessoria de Comunicação : Gustavo Macêdo (APIB)
Fones: (61) 81612500 / (61) 30435070
Email: ascomapib@gmail.com
skype: gustavo.rodrigues.macedo

Mais informações:

Blog: blogapib.blogspot.com
Site: www.apib.org.br

Twitter: @APIB_BR
Facebook: Apib Brasil


PROGRAMAÇÃO


> SEGUNDA-FEIRA 02/05/11

MANHÃ: 8h -12h

Chegada das delegações
Instalação do Acampamento Terra Livre (ATL) 2010
Entrevista Coletiva – 10 hs

TARDE: 14h-18

Abertura do Acampamento:
- Formação da Mesa
- Apresentação das Delegações
- Apresentação da Programação

Plenária:
-Depoimentos e debate

NOITE: 19h

Lançamentos da APIB:
- DVD: Acampamento Terra Livre - Memórias de seis anos de luta
- Apresentação do Boletim Informe APIB
- Apresentação do Site

> TERÇA-FEIRA 03/05/11

MANHÃ: 8h - 12h

Grupos de Trabalho (GTs) por região (Norte, Nordeste e Leste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste) sobre a situação dos direitos indígenas:
- Terras: demarcação e desintrusão
- Empreendimentos que impactam terras indígenas
- Criminalização de lideranças
- Legislação indigenista: Estatuto, PL CNPI, Decreto PNGATI
- Saúde indígena / Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI)
- Educação indígena
- Reestruturação da Funai

TARDE: 14h - 18h

Plenária: Apresentação dos resultados dos GTs regionais

NOITE: 19h

Lançamento do Portal das Culturas Indígenas


> QUARTA-FEIRA 04/05/11

MANHÃ: 8h - 12h
Articulações no Congresso Nacional

TARDE: 14h - 18h

Debate com autoridades (parlamentares)
Mesa: Plano Nacional de cultura e plano setorial indígena
Sistematização de reivindicações e propostas

NOITE: 19h

Apresentações culturais e relatos de experiências


> QUINTA-FEIRA 05/05/11


MANHÃ 8h - 12h

Discussão e aprovação do Documento Final
Audiência com a Presidente Dilma Rousseff e outras autoridades

TARDE: 14h - 18h

Ato Público
Encerramento


Disponível em:
http://blogapib.blogspot.com/2011/04/acampamento-terra-livre-2011-maior.html

terça-feira, 26 de abril de 2011

Índios versão 20 ponto 11

Imagem disponível no Google (Kuikuro do Alto Xingu)

 Na Amazônia, usando laptops e celulares, eles praticam a economia ambiental

24 de abril de 2011 | 0h 35
Por Barbara Maisonnave Arisi - O Estado de S.Paulo
Acabo de retornar de estadia de campo na Amazônia e fico feliz ao constatar que os índios estão cada vez mais dominando novas tecnologias e com uma mentalidade 20.11, preparando-se para participar das grandes questões globais da segunda década do século 21. Exemplos: meu aparelho celular não funcionava, pois na cidade de Atalaia do Norte só há uma operadora. Quem me salvou ao me emprestar seu aparelho novinho foi um garoto matis  considerado pela "regra de parentesco incorporador de antropólogos" meu irmão indígena. Fui surpreendida pelo lindo ringtone com um canto de pássaro amazônico que ouvia ao despertar quando morei na aldeia. "Uau, Makwanantê, que lindo. Como gravou o canto desse pássaro?" "Baixei via Bluetooth de graça no cybercafé da cidade." Ok, eu também esqueço às vezes que trabalho com índios amazônicos versão 20.11, os magníficos matis, um povo de língua pano que vive na Terra Indígena Vale do Javari, segunda maior do País, com 8,5 milhões de hectares.
No dia seguinte pedi a outro jovem matis um carregador de bateria para minha câmera digital e ele trouxe um carregador universal made in China comprado na Colômbia (fronteira próxima). Serve para qualquer tipo de bateria e dribla a imposição de empresas como Sony ou Motorola com modelos que nos obrigam a comprar mil traquitanas. Os índios 20.11 sabem escolher o que lhes dá autonomia mesmo entre as quinquilharias chinesas e surpreendem aqueles que, no Brasil "metropolitano" (para usar um termo cunhado por Manuela Carneiro da Cunha), acham que os indígenas amazônicos vivem na Idade da Pedra ou num paraíso (ou inferno) pré-industrial. Os ameríndios com quem tenho o prazer de conviver podem estar esquecidos nas políticas governamentais, mas se movimentam no universo de questões globais como mercado de crédito de carbono e uso de tecnologia para melhorar a vida em suas comunidades. Alguns estão na universidade e serão em breve professores universitários. Afinal, índios não ficam em cristaleira de museu ou apenas decoram pôster festivo da brasilidade para fazer jus ao logo federal "Brasil, país de todos". Os índios seguem sendo bem índios mesmo portando seus celulares, editando filmes, torcendo pelo Flamengo. E continuam necessitando demarcar terras, especialmente em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Para isso mesmo, precisam e gostam de tecnologia, para estarem plugados no mundo, como você e eu.
Em Manaus, conheci a vice-coordenadora da Coiab (Confederação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira), Sônia Guajajara. Ela ficou famosa na COP-16 (última conferência da ONU sobre mudanças climáticas), em Cancún, México, ao entregar o troféu "motosserra de ouro" à senadora Kátia Abreu, prêmio dado aos que aumentam o desmatamento na Amazônia. Como Sônia, há outros índios que aprenderam o glossário da "economia mundial ambiental", sabem o que é Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação). Ou seja, estão afinados com a economia ambiental e combatem ideias australopitecas dos defensores da reforma do Código Florestal.
Graças aos índios brasileiros é que a floresta ainda está em pé, conforme demonstram imagens do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Vizinhos dos matis, os índios maiorunas vivem em ambos os lados da fronteira do Peru e do Brasil e, nos últimos anos, vêm migrando para nosso País por causa da atuação de empresas multinacionais que concessionaram áreas em seus territórios com o aval do governo do Peru. Os mesmos maiorunas, em 2003 e 2004, chamaram a atenção das autoridades para o contrabando de madeira realizado por peruanos. Os Estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia, sempre citados como destruidores do meio ambiente, só apresentam indicadores positivos devido às terras indígenas. Os índios também denunciam as rotas do narcotráfico em seus territórios.
Além desses serviços ao País, os índios também investem em economia criativa. Querem que sua juventude aprenda a utilizar telefones celulares, laptops e câmeras de vídeo para que eles próprios tenham domínio sobre a produção (e também o consumo, em alguns casos) da indústria da criatividade, que os jovens indígenas façam seus próprios filmes, vendam CDs de suas músicas, tenham eles próprios controle sobre seus bens imateriais que por tantos anos foram produzidos e vendidos por estrangeiros ou outros brasileiros. Os índios têm todo o direito de se tornarem big players na indústria do entretenimento. Como demonstram sucessos como o filme Cheiro de Pequi, da Associação Indígena Kuikuro e do Vídeo nas Aldeias, que ganhou o prêmio de melhor curta-metragem em Montreal, no Canadá. Chegará logo o dia em que teremos cineastas indígenas concorrendo em Cannes.
É bom lembrar, porém, que nem tudo na realidade indígena são cantos de pássaros e tecnologia. No Javari, cerca de 80% da população indígena está contaminada por hepatites virais que provocaram a morte de 300 pessoas nos últimos dez anos. Há alguma esperança com a nova Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) de que haja atendimento permanente para as 55 comunidades. A Funai, em processo de reestruturação, havia decidido desmontar a administração regional na cidade de Atalaia do Norte, deixando os cerca de 3.800 índios que moram na Terra Indígena sem uma base administrativa próxima. Parece que quem vive em Brasília olha o mapa do Javari apenas pendurado na parede e, por isso, pensa que os rios do Javari correm do norte para o sul! Porém os rios do Javari correm todos na direção norte e oeste para formar o Solimões e, a partir de Manaus, o Amazonas. Certamente, os índios terão muitos direitos a exigir nos protestos do Abril Indígena, programados para ocorrer em maio em Brasília.
As grandes questões globais estão na Amazônia e os índios, melhor do que a maioria dos brasileiros, já estão se preparando para lidar com esse mundo 20.11  de preocupações com energias limpas (pós-Fukushima), onde os países ricos pagam aos "emergentes" para que mantenham suas florestas em pé, onde as tecnologias made in China tomam o lugar das que fazem carregadores não universais, onde quem tem força de sobrevivência é quem vai vencer e deixar para trás os acomodados. Os índios brasileiros já mostraram que vieram para sobreviver. Desde 1500 têm conseguido se manter vivos, o que em si, já é um feito e tanto. Agora, parece que vão nos ensinar o que fazer para sermos um país rico em biodiversidade, em captura de carbono e em economia criativa. Tenho tentado acompanhá-los e aprender com eles.


BARBARA MAISONNAVE ARISI É DOUTORANDA DO PROGRAMA DE ANTROPOLOGIA SOCIAL UFSC. ESTAGIOU NO INSTITUTE OF SOCIAL AND CULTURAL ANTHROPOLOGY DA UNIVERSIDADE DE OXFORD

domingo, 24 de abril de 2011

CHAMEM O CHAPOLIN, O SHERLOCK HOLMES... O CONTADOR DE ACESSOS SUMIU!!!


Próximo de alcançarmos os 100 mil acessos ( o que é esplendoroso para um blog de caráter educativo, comprometido com um conteúdo de qualidade, de fato, que não especula a vida alheia, feito por uma educadora comprometida com a educação, com a causa indígena), depois de atingirmos mais de 600 acessos em um dia, o contador de acessos que registra nosso total de acessos desde 2009, desapareceu!
Clique para ampliar - mais de 700 acessos em um dia pela primeira vez! Obrigada!!!


SOCORRO!!!

PS. 24 horas após postar este texto, o contador voltou!!

quarta-feira, 20 de abril de 2011

PESSACH: A PÁSCOA JUDAICA

Experimentar as delícias da cozinha judaica é uma maneira de conhecer a história do seu povo. Nas refeições judaicas, principalmente no Pessach, os ingredientes são muito mais do que uma simples comida no prato, pois todos os alimentos servidos têm um significado especial.

Durante o Seder são feitos pratos diversos, tais como: peixe assado com legumes, bolinhos de carne (Carnatzlach) e de peixe (Guefilt), preparado somente com peixes de água doce (carpa e traíra), e ainda muitos doces: bolo de mel com nozes Mas o cardápio pode variar conforme a origem das famílias. Aquelas que pertencem aos ashkenazim - judeus de origem germânica ou européia ocidental - não comem arroz ou outros tipos de grãos. A proibição se estende a quase todas as sementes comestíveis, aos óleos derivados destes grãos e a qualquer alimento que contenha estes ingredientes.
Essa restrição já não acontece entre os sefaradim (judeus orientais e da Península Ibérica). O matzot (pão sem fermento), geralmente consumido durante os oito dias de festa, pode ser saboreado até um dia antes da comemoração na casa de um sefaradi. Até o conhecido doce haroseet (ashkenazim e sefaradi) não é feito da mesma maneira. O mesmo ocorre com prato do Seder, repleto de alimentos com significados. Confira o que cada um representa:

Betsá (ovo cozido) - lembra o luto pela perda do Templo de Jerusalém

Charósset (mistura de nozes, vinho, canela e amêndoas) - simboliza o barro usado para fazer as construções dos faraós e o trabalho pesado dos judeus.


Karpás (ramos de salsa ou salsão entre os sefaradim. Salsinha, cebola e batata na mesa dos ashquenazim) - estão ligados ao renascimento e a liberdade.

Marór (escarola ou alface para os sefaradim e raiz forte entre os ashquenazim) - representa a amargura da escravidão no Egito. As verduras devem ser molhadas em vinagre ou água salgada como lembrança das lágrimas derramadas e do suor incessante durante o trabalho escravo.

Zeroá (qualquer osso tostado com carne) - sacrifício do povo judeu

http://vilamulher.terra.com.br/cozinha-judaica-receitas-e-significados-4-1-75-42.html


Páscoa no Judaísmo


Segundo a Bíblia (Livro do Êxodo), Deus lançou 10 pragas sobre o Egito. Na última delas (Êxodo cap 12), disse Deus que todos os primogênitos egípcios seriam exterminados (com a passagem do anjo da morte por sobre suas casas), mas os de Israel seriam poupados. Para isso, o povo de Israel deveria imolar um cordeiro, passar o sangue do cordeiro imolado sobre as portas de suas casas, e Deus passaria por elas sem ferir seus primogênitos. Todos os demais primogênitos do Egito foram mortos, do filho do Faraó aos filhos dos prisioneiros. Isso causou intenso clamor dentre o povo egípcio, que culminou com a decisão do Faraó de libertar o povo de Israel, dando início ao Êxodo de Israel para a Terra Prometida.

A Bíblia judaica institui a celebração da Páscoa em Êxodo 12, 14: Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o como uma festa em honra do Senhor: Fareis isto de geração em geração, pois é uma instituição perpétua .

A PÁSCOA JUDAICA

A páscoa judaica é chamada pessach, que significa libertação e lembra o episódio do Êxodo quando os Judeus eram escravos no Egito. É a festa mais importante, onde comemora-se a liberdade e a identidade judaica, permitindo a sobrevivência desse povo por longos séculos através dos ritos.

A pessach é uma festa tipicamente familiar. No dia anterior à celebração faz-se uma profunda limpeza da casa, procurando não deixar nada de fermentado, queima-se o lixo para ensinar às novas gerações, que só é permitido comer pães ázimos, seguindo a prescrição do livro do Êxodo. A cabala ensina que o fermento representa as imperfeições morais e as tendências negativas do homem. Da mesma forma que a massa fermentada enche-se de ar e cresce, assim também é o homem que se enche de vaidade, vazios. O pão ázimo lembra também aos judeus a pressa que seus antepassados tiveram que lutar pela sua saída do Egito.




No pôr-do-sol, tem início a festa, que consiste numa ceia chamada seder palavra que significa ordem, porque ela se desenvolve, segundo um ritual secular. Na ceia, é lembrada a libertação do povo da escravidão no Egito, transmitindo a importância dessa memória numa catequese que se refere a história do povo judaico.

A cerimônia do seder inicia-se com a bênção do vinho ou kidush, que se bebe enquanto uma criança faz perguntas rituais sobre o sentido do pessach. As respostas são dadas pelo chefe da família, enquanto são colocados alimentos na mesa: o pão ázimo, as ervas amargas, o cordeiro assado e um ovo que representa a destruição do templo de Jerusalém.

Na refeição são tomadas quatro taças de vinho. Após a refeição, as crianças procuram a sobremesa ou afikoman, que é escondida pelo pai no início da cerimônia. O doce é distribuído para os presentes na celebração, que depois não poderão comer nada de sólido até o fim da noite. Depois , vem a bênção de ação de graças e é tomada mais uma taça de vinho, que é dedicada ao profeta Elias.

O final da celebração do seder é apresentada uma série de canções e melodias, na qual a última é denominada "No ano que vem em Jerusalém" que é um voto de esperança que expressa o que está no coração de todo Judeu: que se restabeleça o Reino de Deus e que Jerusalém seja o símbolo, mesmo incompleto, da vida nos tempos messiânicos.


 Mensagem Enviada pela Acadêmica Maria José Zanini Tauil - Brasil


Receitas da Páscoa Judaica: Sabor inigualável!!

Tipo de Culinária: Judaica
Categoria: Doces
Subcategorias: Tortas doces
Rendimento: 10 porções

BOLO DE NOZES DE PESSACH 

Disponível em: http://cybercook.terrra.com.br
 
 
Ingredientes
250 gr de nozes moída(s)
8 unidade(s) de clara de ovo
8 unidade(s) de gema de ovo
4 copo(s) de açúcar
1 colher(es) (chá) de essência de amêndoas
2 copo(s) de farinha de matzá
quanto baste de raspas de laranja

Modo de preparo

Bata as 8 claras em neve. Use 2 colheres de sopa cheias dessa clara, misturando a 2 copos de açúcar, as nozes, a essência, 1 copo de farinha e suco de ½ limão. Fica como uma massa de torta. Estenda em uma assadeira e leve para assar, até secar um pouco, mas não asse totalmente.
Rapidamente, bater as gemas com 2 copos de açúcar, juntar um copo de farinha de matzá, as raspas de laranja e o restante das claras em neve. Cobre-se com geléia a massa que está no forno e despeja-se a Segunda massa por cima.
Volta ao forno, até secar. 
     

Dia do Índio. Qual sociedade é composta por selvagens?

Criança branca pintada de índio em escola de classe média alta é hype. Criança índia desterrada esmolando no semáforo é kitsch. Índio só é fofo se vem embalado para consumo.
Nesta terça, 19 de abril, é Dia do Índio. Data boa para lembrar qual sociedade é, de fato, composta por selvagens. Vamos celebrar:
Dia do Índio se tornar escravo em fazenda de cana no Mato Grosso do Sul
Dia do Índio ser convencido que precisa dar sua cota de sacrifício pelo PAC e não questionar quando chega a nota de despejo em nome de hidrelétricas com estudo de impacto ambiental meia-boca
Dia do Índio armar um barraco de lona na beira da estrada porque foi expulso de sua terra por um grileiro
Dia do Índio ver seus filhos desnutridos passarem fome porque a área em que seu povo produziria alimentos foi entregue a um fazendeiro amigo do rei
Dia do Índio ser queimado em banco de ponto de ônibus porque foi confundido com um mendigo
Dia do Índio ser chamado de indolente
Dia do Índio ter ignorado o direito sobre seu território porque não produz para exportação
Dia do Índio ter negado o corpo de filhos assassinados em conflitos pela terra porque o Estado não faz seu trabalho
Dia do Índio se tornar exposição no Zoológico da maior cidade do país como se fosse bichinho
Dia do Índio ser retratado como praga em outdoor no Sul da Bahia por atravancar o progresso
Dia do Índio tomar porrada na Bolívia, no Paraguai, na Colômbia, no Peru, no Equador, no Chile, na Argentina, na Venezuela porque é índio
Dia do Índio ser motivo de medo de atriz de TV, que acha que um direito de propriedade fraudulento está acima de qualquer coisa
Dia do Índio entender que a invasão de nossas fronteiras é iminente e, por isso, ele precisa deixar suas terras para dar lugar a fazendas
Dia do Índio sofrer preconceito por seus olhos amendoados, sua pele morena, sua cultura, suas crenças e tradições
Enfim, Dia do Índio se lembrar quem manda e quem obedece e parar com esses protestos idiotas que pipocam aqui e ali. Ou será que nós, os homens de bem, vamos precisar de outros 511 anos para catequisar e amansar esse povo?


Fonte:
BLOG DO SAKAMOTO
http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/04/19/dia-do-indio-qual-sociedade-e-composta-por-selvagens/comment-page-1/#comment-70440

terça-feira, 19 de abril de 2011

ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL ENVIA CARTA PÚBLICA À PRESIDENTE DO BRASIL

Imagem disponível no Google - criança Guarani-kaiowá do MS

Abril Indígena: Movimento Indígena demonstra unidade e divulga principais demandas junto ao Governo Federal

Reunido em Brasília desde o dia 17 de abril, o Fórum Nacional de Lideranças Indígenas (FNLI), instância máxima de deliberação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), divulgou carta pública onde lista as principais demandas do Movimento Indígena junto ao Governo Federal. O documento será encaminhado às principais instâncias do Poder Público e servirá como diretriz para as lideranças nas reuniões com as autoridades federais.

A carta pública da APIB, elaborada em conjunto com a bancada indígena na Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), com o Fórum de Presidentes dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisi) e com os representantes no Conselho Nacional de Saúde, é exemplo claro da união e sincronia das lideranças, que atuam em diversas áreas, na busca pelo bem comum.

O texto, que pode ser lido na íntegra logo abaixo, será entregue ao Ministro da Justiça em reunião marcada para às 9 horas desta terça, dia 19, na sede do ministério. Na pauta do encontro a demarcação, regularização e desintrusão das Terras Indígenas; a crescente perseguição e criminalização de lideranças e a votação no Congresso Nacional do Estatuto dos Povos Indígenas e do Conselho Nacional de Política Indigenista.


                                              CARTA PÚBLICA


A Excelentíssima Senhora Dilma Rousseff
Presidente da República Federativa do Brasil

APIB reivindica celeridade nas ações do Governo Dilma voltadas a garantir os Direitos Indígenas


Nós, dirigentes e lideranças indígenas da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), reunidos na 5ª. reunião ordinária do Fórum Nacional de Lideranças Indígenas (FNLI), instância deliberativa de nossa organização, preocupados com a manutenção do quadro de desrespeito e violação aos direitos dos nossos povos, e cientes da nossa responsabilidade de zelar por esses direitos, viemos por meio desta apresentar à vossa excelência as seguintes manifestações.

O Estado Brasileiro durante o mandato do Governo Lula não atendeu a contento as demandas e perspectivas do movimento indígena, permitindo que as políticas voltadas aos nossos povos continuem precárias ou nulas, ameaçando a nossa continuidade física e cultural.

Diante deste quadro, reivindicamos de seu Governo o atendimento das seguintes reivindicações:

1. Que o presidente da Câmara dos Deputados inclua na ordem do dia o PL 2057/91 e crie a Comissão Especial para analisar o PL 2057/91, para permitir a discussão e apresentação de emendas, considerando as propostas dos nossos povos e organizações, visando à aprovação do novo Estatuto dos Povos Indígenas. Dessa forma, todas as questões de interesse dos nossos povos serão tratadas dentro desta proposta, evitando ser retalhadas por meio de distintas iniciativas legislativas que buscam reverter os avanços assegurados pela Constituição Federal de 1988.

2. Que o Governo redobre esforços na tramitação e aprovação do Projeto de Lei 3.571/2008, que cria o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), instância deliberativa, normativa e articuladora de todas as políticas e ações atualmente dispersas nos distintos órgãos de Governo.

3. Que Governo da Presidente Dilma agilize a assinatura do Decreto de criação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI), e a sua devida implementação, para assegurar as condições de sustentabilidade dos nossos povos e de proteção dos nossos territórios.

4. Que o Executivo, por meio do órgão responsável, a Funai, cumpra com máxima celeridade a sua obrigação de regularizar, proteger e desintrusar todas as terras indígenas priorizando com urgência os casos críticos dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, principalmente os Guarani Kaiowá; dos povos indígenas do sul e extremo sul da Bahia; dos povos do sul do Brasil, especialmente o Povo Xetá e do Povo Tembé, na terra indígena Guamá, no estado do Pará. Que o governo garanta ainda a permanência de povos indígenas em áreas instituídas como áreas de proteção permanente, uma vez que a forma de ocupação tradicional dos nossos povos não conflita com esta figura jurídica. Ao contrário, a sobreposição é que na maioria das vezes violenta o direito originário dos nossos povos às terras que ocupam.

A agilidade na conclusão das distintas fases do procedimento de regularização é necessária para diminuir a crescente judicialização que vem retardando a efetividade das demarcações concluídas pelo Executivo, vulnerabilizando as comunidades frente à violência de grupos contrários ao reconhecimento das terras indígenas e à sua proteção pela União.

5. Que as lutas dos nossos povos pelos seus direitos territoriais não sejam criminalizadas, sendo eles perseguidos e criminalizados na maioria das vezes por agentes do poder público que deveriam exercer a função de proteger e zelar pelos direitos indígenas. Reivindicamos ainda que sejam punidos os mandantes e executores de crimes cometidos contra os nossos povos e comunidades.

6. Reivindicamos do governo uma reunião de trabalho entre os distintos ministérios envolvidos com a questão indígena com os dirigentes das nossas organizações regionais, que fazem parte da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), para tratar das diversas pendências que afetam os nossos povos.

7. Que o governo assegure a participação dos nossos povos e organizações no processo de elaboração do Plano Plurianual 2011-2014..

8. Que o Governo garanta os recursos financeiros suficientes para a implementação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) e a efetivação da autonomia política, financeira e administrativa dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI`s), com a participação plena e o controle social efetivo dos nossos povos e organizações nos distintos âmbitos, local e nacional, evitando a reprodução de práticas de corrupção, apadrinhamentos políticos, e o agravamento da situação de abandono e desassistência em que estão muitos povos e comunidades indígenas. Garantir, ainda, concurso público diferenciado e a capacitação de quadros indígenas para assumirem responsabilidades no atendimento à saúde indígena.

A demora na transição das responsabilidades da Funasa para a SESAI, em razão de interesses políticos partidários e corporativos, está gerando caos no atendimento básico e insegurança sobre a garantia do saneamento básico nas comunidades indígenas. O Governo da presidente Dilma deve tomar providências para que os órgãos competentes cumpram as suas responsabilidades institucionais em bem da saúde dos nossos povos.

09. Que a Funai garanta a participação das organizações e lideranças indígenas no processo de discussão dos ajustes ao Decreto da reestruturação, na formulação do regimento interno da Funai, na composição e localização das coordenações regionais e coordenações técnicas locais e em todo o processo de implementação e controle social deste processo.

Que os Seminários sobre a reestruturação não sejam simples repasses de informações ou de esclarecimentos, muito menos de anuência dos nossos povos às propostas da Funai, mas que possibilitem o levantamento das reais demandas para ajustar a reestruturação às realidades de cada povo ou região, devolvendo inclusive coordenações que foram extintas.

10. Que o Governo da Presidente Dilma garanta a aplicabilidade da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Constituição Federal, respeitando o direito dos nossos povos à consulta livre, prévia e informada, sobre os distintos assuntos que os afetam, tal como a implantação de grandes empreendimentos em suas terras (exemplo: hidrelétrica de Belo Monte, Hidrelétricas do Santo Antônio e Jirau, transposição do Rio São Francisco, Pequenas Centrais Hidrelétricas-PCHs, possíveis usinas nucleares, portos e estradas), e que o governo reluta em “enfiar goela abaixo” ameaçando a continuidade e segurança física, psíquica e cultural dos nossos povos e comunidades.

11. Que o Ministério da Educação assegure a participação dos povos e organizações indígenas na implementação dos territórios etnoeducacionais e que cumpra as resoluções aprovadas pela I Conferência Nacional de Educação Indígena de 2009.

12. Que o Ministério da Cultura assegure as condições para que as nossas organizações e lideranças participem da formulação e implementação de ações e políticas que promovam a diversidade étnica e cultural dos nossos povos, no contexto do Fundo e Plano Nacional de Cultura.

13. Que o governo construa com a participação dos nossos povos e organizações um programa de proteção e segurança para povos indígenas nas faixas de fronteira, ameaçados por práticas ilícitas, que prejudicam principalmente jovens e crianças das comunidades.

14. Que o governo garanta o acesso dos nossos povos e comunidades às políticas de segurança alimentar e nutricional, assegurando o tratamento diferenciado, isto é, considerando a nossa especificidade étnica e cultural.

Brasília, 18 de abril de 2011.

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil - APIB

segunda-feira, 18 de abril de 2011

19 DE ABRIL: O QUE NOSSOS ÍNDIOS TÊM PARA COMEMORAR?

Crianças Guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul: fome, morte, dor e abandono
 Só em 2011 já morreram 8 crianças indígenas no estado de Mato Grosso

No ano passado, foram 37 óbitos

 

Mais uma criança morreu em Campinápolis, a 562 km de Cuiabá, na região do Médio Araguaia (MT). Já são oito o número de mortes registradas somente em janeiro de 2011 no município. A criança tinha dois anos e morreu de pneumonia, mesmo problema que acometeu as demais que foram à óbito nos últimos 15 dias. Doenças parasitárias e infecciosas também têm vitimado crianças xavantes.
Existem cerca de 100 aldeias naquela região e a mortalidade infantil tem sido o principal problema vivido pelas comunidades indígenas de Campinápolis. No ano passado, foram 37 óbitos e que estariam ocorrendo pela precariedade dos serviços de atenção básica à saúde oferecida aos Xavantes pelo Ministério da Saúde.
 
http://www.portalodm.com.br/so-em-2011-ja-morreram-8-criancas-indigenas-no-mato-grosso--n--502.html
Assassinato do índio Galdino choca o país
Recordamos nesta quarta-feira, dia 19, um fato que envergonhou Brasília em 1997. O assassinato do índio Galdino Pataxó. Cinco jovens jogaram álcool no homem que dormia em uma parada e atearam fogo. Os cinco jovens que atearam fogo no índio Galdino Pataxó estão soltos desde 2005.
Assassino agora é funcionário federal!


Assassinos do índio Galdino Pataxó

Justiça condena 26 Xukuru à prisão em Pernambuco
Desde a retomada da luta pela terra, assassinatos e perseguições visam acabar com a organização do povo.


Índios protestam contra construção de Belo Monte em Londres

Se executada, hidrelétrica irá desalojar mais de 10 mil indígenas, que habitam a região há séculos, afogando suas origens, histórias e lembranças.

O GENOCÍDIO SURREAL DOS GUARANI-KAIOWÁ. 

Reportagem especial de Joana Moncau e Spensy Pimentel - publicada pela Revista CAROS AMIGOS 20/10/2010


O maior grupo indígena do país luta para escapar do extermínio, enquanto o fim do governo Lula consagrará um atraso de dezessete anos na demarcação de suas terras.
Imagine um lugar onde as pessoas têm expectativa de vida inferior à de países africanos em guerra, onde a taxa de assassinatos é semelhante à dos bairros mais violentos de metrópoles como São Paulo e Rio, e onde as taxas de suicídio estão entre as maiores do mundo. Imagine uma situação de racismo tal que você não pode frequentar um hospital, delegacia ou escola, nem ouvir a rádio, assistir às TVs ou ler os jornais sem ser humilhado cotidianamente. Imagine mais: além disso tudo, essa é a terra onde você nasceu, mas que lhe foi retirada à força por pessoas que se instalaram ali com o apoio do governo do seu próprio país, obrigando-o a se refugiar no país vizinho para sobreviver. E, se não bastasse tudo isso, quando você tentou voltar para recuperar o que era seu por direito, foi tachado de estrangeiro.

Indígenas do Povo Pukobyê-Gavião são ameaçados por fazendeiros em Amarante do Maranhão

http://pib.socioambiental.org/pt/noticias?id=94857


Assassinato de índios cresce 214% em 2007 em Mato Grosso do Sul

http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u361051.shtml

Jovens espancam e matam índio em MG

Índio teria sido seguido depois que saiu de festa em escola.
Três rapazes teriam admitido responsabilidade pelo crime - dois são menores.

 

Você ainda acredita que "índio quer apito"?!

RESPEITO AOS DIREITOS DOS POVOS ORIGINÁRIOS. ESSA É A  MELHOR MANEIRA DE COMEMORAR O "DIA DO ÍNDIO"!!

sábado, 16 de abril de 2011

50 anos da "República dos Villas Bôas" - Por NOEL VILLAS BÔAS

Imagem: Google - Indígenas do Xingu

A criação do Parque Indígena do Xingu não foi um fato isolado: a política indigenista brasileira, a partir de então, passou a ter um outro rumo



O Parque Indígena do Xingu foi criado depois de uma luta de quase dez anos. O primeiro anteprojeto de criação do parque foi apresentado em 1952, no governo Vargas.
Três eram seus objetivos principais: preparar as comunidades indígenas para o contato inevitável com a nossa sociedade; amenizar a pressão que a sociedade exercia sobre essas comunidades, evitando um contato brusco, com consequências desastrosas (como, mais tarde, foi confirmado em outras regiões); e preservar as condições necessárias de fauna e flora, garantindo que as comunidades xinguanas seguissem mantendo seu modo de vida, indissociável da terra.
O anteprojeto foi formalmente apresentado ao presidente Getulio Vargas pela comitiva liderada pelo vice-presidente Café Filho.
Dela participaram grandes nomes, que foram fundamentais para o projeto e que meu pai, Orlando Villas Bôas, sempre fazia questão de mencionar: Noel Nutels, médico sanitarista; José Maria da Gama Malcher, presidente do Serviço de Proteção ao Índio (SPI); brigadeiro Raimundo Vasconcelos Aboim; dra. Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional; o jornalista Jorge Ferreira e os antropólogos Eduardo Galvão e Darcy Ribeiro.
No entanto, o parque não sensibilizou Vargas. Meu pai contava assim esse episódio: "Sua excelência, de mãos às costas, cenho cerrado, ouviu a proposta e só não se tornou mais sisudo porque foi obrigado a abrir um largo sorriso diante de uma irreverência inteligente "desafogadora" do Noel Nutels".
Juscelino Kubitschek também se mostrou sensível à ideia de criação do parque, mais até do que Getulio Vargas, mas teria confessado que não teria força política para criá-lo.
Em 1961, por decreto, Jânio Quadros, em sua breve passagem pela Presidência, criou, num de seus primeiros atos, o Parque do Xingu, convencido da importância da criação de uma reserva para abrigar as populações indígenas. Por que por decreto? Porque o projeto jamais passaria pelo Congresso Nacional, já que contrariava interesses econômicos, principalmente, claro, do Estado do Mato Grosso.
A criação do parque não foi um fato isolado: a política indigenista brasileira tomou outro rumo, diferente daquele da política do marechal Rondon, "pai" do indigenismo brasileiro. Ficou claro, com a criação do parque, que, para garantir a sobrevivência dos indígenas, seria preciso garantir suas terras, de forma que o índio seguisse vivendo em sua cultura e organização social, em equilíbrio com a natureza.
Para os irmãos Villas Bôas, a política indigenista deveria se apoiar em duas máximas, simples e concretas: primeiro, o índio só sobrevive na própria cultura; segundo, não há lugar para o índio na sociedade brasileira de hoje... como também não havia meio século atrás.
No parque, a política indigenista dos Villas Bôas pode ser implantada tal como a conceberam, proporcionando ao índio a proteção necessária que o preparasse para o choque inevitável com a nossa sociedade. Cumpriu a sua função.
As ameaças que o índio, não só o xinguano, enfrenta não são novas, como provam políticas indigenistas de governos passados. O famoso Plano de Integração Nacional, do presidente Médici, por exemplo, tinha duas diretrizes em relação ao índio: integrá-los o mais rápido possível à economia de mercado e impedir que constituíssem um obstáculo ao desenvolvimento do país.
Mas o Parque Indígena do Xingu, que celebra 50 anos hoje, como dizia o imortal Antonio Callado, é criação amorosa e, portanto, dura muito, ou talvez nunca acabe; assim é "a República dos Irmãos Villas Bôas", a mais importante reserva indígena do continente americano e o mais belo mosaico linguístico-cultural do mundo de acordo com a Unesco.

Da esquerda para a direita: Noel Villas Boas, Orlando Villas Boas e o Cacique Raoni
 Foto: acervo pessoal de Noel Villas Boas
 
 
NOEL VILLAS BÔAS, 35, formado em direito e filosofia, é filho do sertanista Orlando Villas Bôas, um dos idealizadores do Parque Indígena do Xingu. Foi membro do conselho indigenista da Funai por dois mandatos (de 2000 a 2004).


 Disponível em:
http://sergyovitro.blogspot.com/2011/04/50-anos-da-republica-dos-villas-boas.html?spref=fb
 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

16 DE ABRIL - 122º ANIVERSÁRIO DE CHARLIE CHAPLIN


Biografia de Charlie Chaplin


Sir Charles “Charlie” Spencer Chaplin foi o mais famoso ator dos primeiros momentos do cinema hollywoodiano, e posteriormente um notável diretor. No Brasil é também conhecido como Carlitos (equivalente a Charlie), nome de um dos seus personagens mais conhecidos. Chaplin foi uma das personalidades mais criativas da era do cinema mudo; ele atuou, dirigiu, escreveu, produziu e eventualmente financiou seus próprios filmes. Chaplin, cujo quociente de inteligência era de 140, foi também um talentoso jogador de xadrez e chegou a enfrentar o campeão americano Samuel Reshevsky. Nasceu em Walworth, Londres, dos pais Sr. Charles e Hannah Harriette Hill, ambos animadores do Music Hall.

Seu principal personagem foi O Vagabundo (The Tramp): um andarilho pobretão com as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro, vestindo um casaco firme e esgarçado, calças e sapatos desgastados e mais largos que o seu número, um chapéu-coco ou cartola, uma bengala de bambu e sua marca pessoal, um pequeno bigode.

Chaplin iniciou sua carreira como mímico, fazendo excursões para apresentar sua arte. Em 1913, durante uma de suas viagens pelo mundo, este grande ator conheceu o cineasta Mack Sennett, em Nova York, que o contratou para estrelar seus filmes.

Em 1918, no auge de seu sucesso, ele abriu sua própria empresa cinematográfica, e, a partir daí, fazia seus próprios roteiros e dirigia seus filmes. Crítico ferrenho da sociedade, ele não se cansava de denunciar os grandes problemas sociais, tais como a miséria e o desemprego. Produziu grandes obras como: O Circo, Rua de Paz e Luzes da Cidade.

Adepto ao cinema mudo, o também cineasta, era contra o surgimento do cinema sonoro, mas como grande artista que era, logo se adaptou e voltou a produzir verdadeiras obras primas: O Grande Ditador, Tempos Modernos e Luzes da Ribalta.

Na década de 1930 seus filmes foram proibidos na Alemanha nazista, pois foram considerados subversivos e contrários a moral e aos bons costumes. Porém, na verdade, representavam uma crítica ao sistema capitalista, à repressão, à ditadura e ao sistema autoritário que vigorava na Alemanha no período.

Em 1965, publicou sua autobiografia, Minha Vida. Em 1977, na noite de Natal, o mundo perdeu um dos grandes representantes da história do cinema.

Filmes de Charles Chaplin:
O idílio desfeito -1914
Os clássicos vadios – 1921
O garoto – 1921
Casamento ou luxo? – 1923
Em busca do ouro – 1925
O circo – 1928
Luzes da cidade – 1931
Tempos modernos – 1936
O grande ditador -1941
Monsieur Verdoux – 1947
Luzes da ribalta – 1952
Um rei em Nova York – 1957
A condessa de Hong Kong -1967


Para matar saudades!!


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos".
Charles Chaplin

18 DE ABRIL - DIA DO LIVRO INFANTIL. DIA DE MONTEIRO LOBATO



Jacyra Sampaio (à dir.) interpretou Tia Nastácia entre 1977 e 1985, em uma das versões do Sítio do Pica-pau Amarelo para a Globo; ao lado dela está a atriz Zilka Salaberry, que vivia Dona Benta - Foto: Divulgação
MONTEIRO LOBATO



"Um país se faz com homens e livros"
(Monteiro Lobato)


José Bento Monteiro Lobato nasceu em 18 de abril de 1882, em Taubaté, no Vale do Paraíba. Estreou no mundo das Letras com pequenos contos para os jornais estudantis dos colégios Kennedy e Paulista.
No curso de Direito da Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, dividiu-se entre suas principais paixões: escrever e desenhar. Colaborou em publicações dos alunos, vencendo um concurso literário, promovido em 1904 pelo Centro Acadêmico XI de Agosto.
Morou na república do Minarete, liderou o grupo de colegas que formou o "Cenáculo" e mandou artigos para um jornalzinho de Pindamonhangaba, cujo título era o mesmo daquela república de estudantes.
Nessa fase de sua formação, Lobato realizou as leituras básicas e entrou em contato com a obra do filósofo alemão Nietzsche, cujo pensamento o guiaria vida afora.
Viveu um tempo como fazendeiro e foi editor de sucesso. Mas foi como escritor infantil que Lobato despertou para o mundo em 1917.
Escreveu, nesse período, sua primeira história infantil, "A menina do Narizinho Arrebitado". Com capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época, o livrinho, lançado no natal de 1920, fez o maior sucesso. Dali nasceram outros episódios, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Anastácia e, é claro, Emília, a boneca mais esperta do planeta.
Insatisfeito com as traduções de livros europeus para crianças, ele criou aventuras com figuras bem brasileiras, recuperando costumes da roça e lendas do folclore nacional. E fez mais: misturou todos eles com elementos da literatura universal da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema.
No Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan brinca com o Gato Félix, enquanto o Saci ensina truques a Chapeuzinho Vermelho no país das maravilhas de Alice. Mas Monteiro Lobato também fez questão de transmitir conhecimentos e ideias em livros que falam de história, geografia e matemática, tornando-se pioneiro na literatura paradidática - aquela em que se aprende brincando.
Trabalhando a todo vapor, Lobato teve que enfrentar uma série de obstáculos. Primeiro, foi a Revolução dos Tenentes que, em julho de 1924, paralisou as atividades da sua empresa durante dois meses, causando grande prejuízo. Seguiu-se uma inesperada seca, obrigando a um corte no fornecimento de energia. O maquinário gráfico só podia funcionar dois dias por semana.
E, numa brusca mudança na política econômica, Arthur Bernardes desvalorizou a moeda e suspendeu o redesconto de títulos pelo Banco do Brasil. A conseqüência foi um enorme rombo financeiro e muitas dívidas. Só restou uma alternativa a Lobato: pedir a autofalência, apresentada em julho de 1925. O que não significou o fim de seu ambicioso projeto editorial, pois ele já se preparava para criar outra empresa.
Assim surgiu a Companhia Editora Nacional. Sua produção incluía livros de todos os gêneros, entre eles traduções de Hans Staden e Jean de Léry, viajantes europeus que andaram pelo Brasil no século XVI. Lobato recobrou o antigo prestígio, reimprimindo na empresa sua marca inconfundível: livros bem impressos, com projetos gráficos apurados e enorme sucesso de público.
Sofreu perseguições políticas na época da ditadura, porém conseguiu exílio político em Buenos Aires. Lobato estava em liberdade, mas enfrentava uma das fases mais difíceis da sua vida. Perdeu Edgar, o filho mais velho, e presenciou o processo de liquidação das companhias que fundou e, o que foi pior, sofreu com a censura e atmosfera asfixiante da ditadura de Getúlio Vargas.
Partiu para a Argentina, após se associar à Brasiliense e editar suas "Obras Completas", com mais de dez mil páginas, em trinta volumes das séries adulta e infantil. Regressou de Buenos Aires em maio de 1947 para encontrar o país às voltas com situações conflituosas do governo Dutra. Indignado, escreveu "Zé Brasil".
No livro, o velho "Jeca Tatu", preguiçoso incorrigível, que Lobato depois descobriu vítima da miséria, vira um trabalhador rural sem terra. Se antes o caipira lobatiano lutava contra doenças endêmicas, agora tinha no latifúndio e na distribuição injusta da propriedade rural seu pior inimigo. Os personagens prosseguiam na luta. Porém, seu criador já estava cansado de tantas batalhas. Monteiro Lobato sofreu dois espasmos cerebrais e, no dia 4 de julho de 1948, virou "gás inteligente" - o modo como costumava definir a morte.
Monteiro Lobato foi-se aos 66 anos de idade,
deixando uma imensa obra para crianças, jovens e adultos e o exemplo de quem passou a existência sob a marca do inconformismo.


Pesquisa no site www.lobato.com.br

MÚSICAS PARA TRABALHAR A TEMÁTICA INDÍGENA EM SALA DE AULA

Minha singela homenagem ao meu querido amigo Marcelo Werá Djekupé - guarani do ES

Chegança (Antonio Nóbrega)

Sou Pataxó,
sou Xavante e Cariri,
Ianonami, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancararu,
Carijó, Tupinajé,
Potiguar, sou Caeté,
Ful-ni-o, Tupinambá.
Depois que os mares dividiram os continentes
quis ver terras diferentes.
Eu pensei: "vou procurar
um mundo novo,
lá depois do horizonte,
levo a rede balançante
pra no sol me espreguiçar".
eu atraquei
num porto muito seguro,
céu azul, paz e ar puro...
botei as pernas pro ar.
Logo sonhei
que estava no paraíso,
onde nem era preciso
dormir para se sonhar.
Mas de repente
me acordei com a surpresa:
uma esquadra portuguesa
veio na praia atracar.
De grande-nau,
um branco de barba escura,
vestindo uma armadura
me apontou pra me pegar.
E assustado
dei um pulo da rede,
pressenti a fome, a sede,
eu pensei: "vão me acabar".
me levantei de borduna já na mão.
Ai, senti no coração,
o Brasil vai começar.





Índios (Legião Urbana)

Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha
Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
E sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do iní­cio ao fim.
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...
Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.



VIDAS AMEAÇADAS!


Imagem: Google - Festa que relembra o contato com os "brancos"

JIAHUI



  • Onde estão: Amazonas
  • Quantos são: 97 (Funasa, 2010)
  • Família linguística : Tupi-Guarani

Os Jiahui somavam 17 pessoas na aldeia Ju’i em 2002, além de vários indivíduos localizados em outras terras indígenas e em localidades próximas. Somando-se a população habitante da aldeia Ju’i aos indivíduos que viviam junto aos Tenharim e em Humaitá e Porto Velho, tinha-se uma população total aproximada de 50 indivíduos.
A junção de todas as atividades econômicas Jiahui, assim como dos Kagwahiva em geral, dá-se através de uma festa, central na cultura nativa. Todo ano, na época de início do plantio, os Kagwahiva preparam uma grande festa denominada Mboatava, nome advindo da palavra castanha. O prato principal servido no ritual é a carne de anta ou taiaho (queixada) cozida no leite de castanha.

Esta festa, cada vez mais, tem se tornado o pólo catalisador dos grupos falantes da mesma língua, constituindo um referencial identitário e político para os Kagwahiva em geral. Nos últimos anos, o ritual tem sido realizado nas aldeias Tenharim e, além de aglutinar todos os Kagwahiva, têm atraído administradores regionais da Funai, missionários, representantes do poder público local e ONGs. Com a constituição da aldeia Ju’i e com a definição dos limites territoriais, os Jiahui estão fortemente propensos a realizar um Mboatava próprio. Segundo os jiahui Irá e Ñagwea’i, a festa realizada pelos Jiahui era semelhante à realizada pelos Tenharim, mas tinha algumas particularidades.

Fonte:
www.pib/socioambiental.com.br

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"Manter-se vivo é a maior contribuição que o índio pode dar ao Brasil."


Almanaque Brasil - Daniel Munduruku

Escrito por João Rocha

"Manter-se vivo é a maior contribuição que o índio pode dar ao Brasil."




 Foi por truque do acaso que ele nasceu na cidade.
Os pais viviam numa aldeia paraense. A mãe, grávida, viajou a Belém e o menino resolveu conhecer o mundo antes do esperado.
 Foi também por conta da curiosidade que, aos 15 anos, Daniel Munduruku deixou para trás a aldeia, formou-se em Filosofia, especializou-se em História e Psicologia e tornou-se um dos primeiros índios doutores do Brasil.
 O confronto entre a tradição do povo munduruku e a vida na cidade ele transformou em histórias. E as histórias em instrumentos de diálogo.
 “Como educador, percebi que éramos dois povos assustados um com o outro. Era preciso aprender com as diferenças.
” Com 40 livros publicados – voltados sobretudo para as crianças –, Daniel acredita que, apesar dos avanços, ainda há muito a fazer para que os povos indígenas sejam realmente reconhecidos dentro da pluralidade cultural brasileira.
 Questionado qual seria a principal contribuição do índio para a cultura brasileira, ele não vacilou:
“Manter-se vivo. Se resistirem, esses povos garantirão uma riqueza cultural, espiritual e moral que só bem faz ao Brasil.”

Seus livros são escritos em português. Essa é a sua primeira língua?

 Fui alfabetizado primeiro na língua munduruku; depois, no português. Na escola havia uma política de estado para a incorporação do indígena na sociedade brasileira. A ideia era fazer com que o índio deixasse de ser índio e virasse “gente normal”, virasse brasileiro. Embora estivesse na aldeia, a escola não permitia que falássemos nossa própria língua. Éramos obrigados a falar português. Isso no início dos anos 1970. É claro que a gente falava escondido, mas quando éramos pegos vinham os castigos. Passar a viver na cidade foi um choque? Até certo ponto, não. Meu pai era carpinteiro e viajava muito para Belém por causa do trabalho. Eu tinha uma boa relação com a cidade. Mas, evidentemente, muitas coisas me chocavam. Quando cheguei a São Paulo, já adulto, sentia muita resistência dos outros. As pessoas se assustavam com o que eu era, e eu me assustava com o que eles eram. Como educador, comecei a perceber que nós éramos dois povos assustados um com o outro. E que era preciso que olhássemos mais para nós, que aprendêssemos com as diferenças.



Como era a reação das pessoas diante do “índio”?


 Escrevi muitas crônicas sobre esse contato, sobre como as pessoas me olhavam. Perguntavam se eu era japonês, se eu era chileno, boliviano. E, só por fim, se eu era índio. Quando eu dizia “Sim, sou índio”, sentia um certo alívio. “Puxa vida, eu também sou. A minha avó foi pega a laço. Ela era uma bugre”, dizia o sujeito, com certo ar de orgulho. “Mas como assim ‘pega a laço’? Cuidado com essa história de uma avó pega a laço”, eu dizia. “Ela não era um bicho que foi domesticado pelos ‘seres humanos’”. Esse tipo de afirmação demonstra preconceito e ignorância sobre a nossa história. Referir-se aos índios como um grupo cultural também demonstra uma certa ignorância, não? Quando me chamam de índio, às vezes brinco dizendo que não sou índio, não. Índio é uma denominação genérica. Ela não reflete o que realmente somos. O que sou mesmo é munduruku. Esse é o meu povo. Antes de ser índio, pertenço a um grupo específico, que tem as suas crenças, as suas tradições, os seus rituais e uma forma muito própria de lidar com o mundo. Uma forma diferente, inclusive, dos outros povos que vivem ao redor da gente.

Quando você percebeu que poderia ser escritor?

 Nos meus dilemas como índio vivendo na cidade, percebi que tinha que fazer uma opção: ou seria um ocidental e aceitaria o ser ocidental, ou me manteria indígena munduruku e aceitaria viver no ocidente a partir da minha experiência munduruku. Acabei optando pela segunda opção. Como educador social, criei um jeito de ensinar que passava pela contação de histórias indígenas. Passei a integrar à filosofia ocidental aquilo que eu trazia da minha tradição: educar os sentidos, os ouvidos, a sensibilidade. E acabei percebendo que dava muito certo. Há uma carência muito grande no ocidente desse tipo de abordagem, que muitas vezes era confundida com o modo oriental de educar. O que eu trazia, não. Era um modo autenticamente brasileiro, original, e as pessoas sentiam que o que elas aprendiam fazia bem a elas. Só depois descobri que sabia e podia escrever.

Por que ainda encaramos os índios como “os outros”?


Eu tenho a impressão de que o índio é “o outro” mesmo. Não existe o índio brasileiro. Existe o brasileiro que é índio. Veja que, nessa perspectiva, a coisa se inverte. Costumamos colocar o Brasil, que veio depois, como se ele tivesse vindo primeiro. Não. O Brasil nasce de uma raiz, de uma origem, que primeiro é indígena. Mesmo o Brasil intelectual, quando olha no espelho e enxerga o seu rosto indígena, não gosta do que vê. O Brasil é um país adolescente. Um país em crise de identidade, que ainda não percebeu que é formado por um conjunto de outros.

Ainda persiste uma visão paternalista em relação aos índios?


Sim, o Brasil ainda tem a visão do índio como um coitado. Um coitado, inclusive, que tem que ser preservado, como se preserva uma coisa. O índio não pode desfrutar do progresso. Índio com celular, carro, escrevendo livros, na universidade, doutor? Não, isso não pode acontecer. Acredita-se que o índio parou no tempo. Ou parou ou deve parar. Só vai permanecer índio se não se misturar. É o mito do índio puro, que vem de muito tempo. Há essa dificuldade de compreensão até na Funai. A Fundação Nacional do Índio estabelece que só atende aos índios aldeados. Aos outros, não. Ou seja: foram para a cidade, não são mais considerados índios. O próprio estado brasileiro define isso. As pessoas têm que entender que, se o índio quer se integrar ao mundo ocidental, é um direito dele. E ele não vai deixar de ser índio por isso. No máximo, vai incorporar outras culturas.

Essa visão do índio puro, pacífico, também não contrasta com uma característica guerreira de muitos povos?


Muitos povos indígenas são historicamente inimigos uns dos outros. O povo munduruku tinha uma porção de inimigos. Por isso sequestrava, guerreava, maltratava, escravizava. Talvez isso seja do ser humano. Quando um povo se alinhava com portugueses, ou franceses, ou holandeses, ele não estava guerreando sem razão. Tinha um propósito: exterminar os inimigos tradicionais, que mataram seus antepassados – o que, em termos históricos, oferece muitas camadas de leitura. Cada povo vai se organizando, se percebendo no mundo de uma maneira tal que não admite o outro, só a si mesmo. Não à toa, boa parte dos povos indígenas se autodenomina, cada qual a sua maneira, de “ser humano verdadeiro”. Os mundurukus são um deles, assim como os xavantes, os bororos. Ao se perceber no mundo, cada povo se sente como o povo escolhido. Os mitos de origem também reproduzem isso. Cada um conta a história a partir do seu ponto de vista.

Por que essa complexidade não chega adequadamente às salas de aula?
 

Talvez porque a escola, os professores, os educadores não saibam da própria história, da complexidade dessa história, ou talvez porque sejam muito preguiçosos. Acabam sendo repetidores de um sistema de ensino, de um conhecimento que eles próprios não valorizam. Em qualquer escola – nas públicas, em especial –, o que se comemora em 19 de abril, Dia do Índio, é basicamente a mesma coisa que se comemorava na década de 1970. Quando converso com educadores, costumo dizer que não estou falando com eles como educadores, mas como pessoas. Se eles acreditam que os povos indígenas são importantes, têm algo a ensinar e algo a dizer às crianças, certamente vão alcançar um resultado fabuloso como educadores. E, em consequência, como seres humanos. Costumo dizer que o papel do educador é confessar o que ele acredita. Mesmo que isso seja matemática, português, ciências. Ele tem que ir lá e confessar que esse conhecimento é importante para a vida dele, e portanto será importante para a vida dos alunos.

Você acredita que seu trabalho tem contribuído para quebrar paradigmas?

 Acho que sim. Há uma mudança visível nessa compreensão. Um ano após o outro, percebo que as escolas que trabalham de forma centrada e crítica sobre o tema evoluíram seus pensamentos. Quando visito esses lugares, não vou lá explicar se o índio caça ou pesca. Mas sim porque ele caça e pesca, ou se é possível ainda caçar e pescar hoje. E aí surge toda uma preocupação ambiental que as próprias crianças demonstram. Acho que essa mudança se dá um pouco por um trabalho na educação e na literatura que eu e outros companheiros fazemos, mas, sobretudo, por causa da atuação do movimento indígena no Brasil desde a década de 1970. É o resultado de mais de 30 anos de lutas.

Qual você diria que é o seu principal objetivo como escritor?

 O que me importa é tocar as pessoas. O livro para mim é um instrumento. É como uma flecha que eu lanço. E a flecha tem um alvo. É a história do arqueiro: o arco, a flecha e o arqueiro se unem, formam uma coisa só. Eu nunca fui um grande caçador. Aprendi a atirar como todo mundo da aldeia, mas nunca quis ficar matando bicho para comer, embora fizesse isso também. Acho que a palavra é a minha arma, uma flecha poderosa. E não a uso somente para contar histórias indígenas. Tenho livros que não tratam em nenhum momento de povos, personagens ou culturas indígenas. Apesar de, evidentemente, meu referencial ser sempre esse.

Você é doutor em educação pela USP. Existem atualmente muitos índios doutores no Brasil?

 Não. Existe aí uma meia dúzia, quando muito. A primeira, uma linguista, tornou-se doutora em 2007 – o que é uma coisa inacreditável. O Brasil tem 500 anos e só muito recentemente um indígena entrou na academia e tornou-se doutor. Na política também não é muito diferente. Não há um só deputado federal indígena, de estado algum. A única experiência de um indígena deputado foi a do Mário Juruna, na década de 1980. Para o povo indígena, foi essencial. O Juruna teve coragem de botar o dedo no nariz dos caras e dizer que eram ladrões, mentirosos. Por isso nunca mais foi eleito. Morreu recentemente, à míngua, porque disse a verdade e não tinha a malícia do político.

Como você crê que os políticos, de modo geral, enxergam os índios?

 As conversas que rolam nos botequins do Congresso vão no sentido de não permitir que tenham autonomia. Dar autonomia é empoderar as pessoas, perder o controle. A ideia do índio preguiçoso, ou contrário ao progresso, à produção, é interessante como justificativa desse controle. Essa “preguiça”, na verdade, tem a ver com outra concepção de produção, de tempo. Está em confronto com o mundo ocidental desde que os portugueses – estes sim preguiçosos – quiseram escravizar os índios para que produzissem por eles. “Produzir pra quê? Guardar pra quem?”. Na concepção do indígena, só há a ideia do hoje, do agora, do presente. Quando você pensa no amanhã, você não vive o hoje. O acúmulo, a poupança valem muito para a sociedade ocidental – a sociedade que inventou a geladeira. O desapego do indígena não cabe nesse mundo. Além de ferir os valores da ganância e do individualismo, a concepção indígena interfere na destruição do meio ambiente. O ocidental se encontra fora do ambiente. O ambiente para ele é algo a ser conquistado. Para o indígena, o ambiente é um parente, um companheiro de caminhada nesse planeta.

O Brasil se vende muito como o país da pluralidade, da diversidade. Falta o componente indígena nesse “produto”? 



 O Brasil não conhece a sua real diversidade. Quando se fala de índio, imaginamos o padrão Globo. A diversidade indígena é enorme. Apesar de tudo o que aconteceu até aqui, somos ainda 250 povos, 180 línguas. Mas tudo isso é transformado em folclore, nessa coisa congelada. Os indígenas são a alma do Brasil. A cultura brasileira é muito rica, foi se atualizando, se transformando. Como dizia Darcy Ribeiro, o Brasil é um povo novo, absolutamente diferente de tudo o que há no mundo. É verdade, mas é um povo que também não sabe aproveitar disso. As pessoas falam muito da cultura afro, que influenciou muito. É verdade, mas não se encontram no Brasil muitos negros que falam a língua tradicional. Entre os indígenas são 180 línguas, faladas teimosamente, resistentemente, Brasil afora. E em todos os cantos do Brasil. Tem gente que acha que só há índio na Amazônia. Em todos os estados brasileiros há presença indígena. Há mais índios nas cidades do que nas aldeias, inclusive. A Funai conta 400 mil aldeados e o IBGE diz que existem outros 600 mil fora das aldeias.

Qual é a principal contribuição dos índios para a cultura brasileira?


 Essa é uma pergunta fundamental, mas a resposta me parece muito simples: precisa manter-se vivo. Se os indígenas conseguirem resistir a tudo isso, já estarão contribuindo muitíssimo com o Brasil. Ao manterem-se vivos, esses povos vão trazer uma riqueza cultural, espiritual, moral que só bem faz ao Brasil. Infelizmente, o País ainda não despertou para isso. Não percebeu que a grande contribuição dos indígenas para o Brasil é a existência dos indígenas.

Por Almanaque Brasil 
 
 
 
DISPONÍVEL EM: 
http://danielmunduruku.blogspot.com

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails