Com muita tristeza e muito pesar (até porque desconhecia essa prática), li há alguns minutos em meu facebook, uma nota publicada por uma colega de trabalho, de que, foi enviado no dia de hoje, um relatório para prefeitura de Gravatá, informando que a “proposta” do executivo em dividir as três parcelas do retroativo de 2012 mais uma das 5 de 2011, em 8 vezes, deixando 4 parcelas de um acordo descumprido, feito em 2011 para serem pagas em 2013, foi aceito por uma maioria de professores que participaram da última assembleia no dia 14 deste mês. Ao que me consta (e me corrijam se estiver equivocada), fui a única educadora presente nesta reunião, que levantou os dois braços, sinalizando a não-aceitação a esta proposta imoral e indecente, dentro do meu direito de pensar, por ter conhecimento e por ter publicado diversas situações que a mim parecem no mínimo “estranhas”, na forma de uso do dinheiro destinado a educação em Gravatá, bem como em outras pastas, conforme se pode verificar no Portal da Transparência. É importante ressaltar também que, a reunião não contou com a totalidade dos professores filiados ao sindicato, por diversas razões: um número expressivo de professores, trabalham em outros municípios, como forma de multiplicar seus ganhos, para manter um padrão de vida médio. Alguns comunicaram que se encontravam doentes. Os demais, desconheço o motivo da ausência.
Diante deste comunicado, senti uma dor semelhante a um golpe desferido no estômago, por ver esvaindo-se dentre os princípios defendidos pela educação, o princípio da não subserviência, da consciência crítica. Quando não aceitei o tal acordo, não tinha (nem tenho) a pretensão de ser uma figura polêmica, nem do contra. Muito pelo contrário. Minha não concordância tem embasamento nos números demonstrados nas despesas feitas pelo município desde 2009, que estão a disposição de qualquer cidadão, que dão conta de que o município gastou milhões com propaganda, com shows superfaturados e outras contas estarrecedoras até aos olhos do mais humilde munícipe, o que torna óbvio que, um município que paga mais de 200 mil a uma única atração musical que se apresentou na cidade, tem dinheiro suficiente para pagar o salário integral dos professores e, se não o faz, demonstra a falta de respeito com que trata a educação.
Esta decisão, de uma maioria presente na referida assembleia, gerou em mim um conflito imenso, referente ao que aprendi, desde quando fui aluna do curso de magistério no Devaldo Borges há 18 anos, tendo dentre outros mestres, a Prof.ª Lúcia Amorim, Prof.ª Poliana, Prof.ª Leonor, que provocavam reflexões sobre o papel da educação e seu efeito. Diziam elas em forma de parábolas, seguindo a orientação de outros grandes mestres como Paulo Freire, que a educação traz luz, esclarecimento, combate a ignorância, abre os olhos. O grande Albert Einstein disse certa vez: “Uma mente que se abre a uma nova ideia, jamais voltará a seu tamanho original”. A bíblia sagrada traz em um de seus textos a seguinte reflexão: “Quem tem posto a mão no arado* não pode mais voltar atrás”. (Lc. 9:61). Hoje, curso Mestrado em Ciências da Educação, e continuo aprendendo estes mesmos ensinamentos.
Ouvi como explicação e/ou justificativa de alguns colegas de que aceitar esta “proposta” se dá pelo fato de saberem que a justiça é morosa, lenta demais e, que se fossem esperar por uma decisão judicial, o pagamento seria feito a seus netos ou bisnetos. Não julgo-os, nem os condeno. Não é este meu papel. Creio que cada um age movido por alguma força, convicção ou ideologia, por mais absurda que possa parecer. Eu, defendo o que acredito!!!
No entanto, não compactuo deste pensamento. Estarei recorrendo a justiça, sim, acreditando que a justiça atende aos que dela se valem, aos que a ela recorrem por terem seus direitos desrespeitados. Se meus netos tiverem de receber o valor que me está sendo negado agora, saberão que não fui de encontro aos meus princípios e ao que defendo enquanto educadora.
Olharei-os de cabeça erguida, assim como olharei para meus alunos segunda-feira, com altivez, defendendo com veemência que, não devem se conformar em morar num barraco, já que existem favelas no mundo todo. NÃO!! Existem programas do governo federal, custeado com nossos impostos, para combater a pobreza extrema. Vamos lutar para ter esse direito respeitado. Não direi aos meus alunos que continuem assistindo as aulas em uma sala quente, com buracos no piso, em cadeiras que aleijam nossa coluna, porque os alunos na África assistem aulas debaixo de uma árvore. NÃO!! Nossos impostos garantem, através de programas do governo como o FNDE, escolas bem equipadas, com material de qualidade, móveis adequados para facilitar o trabalho de ensino-aprendizagem. Não direi aos meus alunos que comam cuscuz seco com mortadela frita, já que há milhares de crianças que estão morrendo de fome no mundo todo. NÃO!! Nossos impostos garantem através de programas do governo federal, como o PNAE, uma merenda de qualidade, que não precisa ter caviar, mas garante alimentos nutritivos, saudáveis e saborosos na merenda. Finalmente, erguerei a cabeça e direi aos meus alunos que, trabalhei em 2011, e não esperarei para receber em 2013, porque isso fere princípios básicos da dignidade e as leis trabalhistas deste país. Se eu assim não o fizer, estarei indo de encontro a tudo que defendo e acredito. Estarei jogando pelo ralo 11 anos vividos intensamente em prol da educação, que procuro fazer de forma dinâmica, combatendo a mediocridade do sistema, que a toda hora tenta me empurrar de goela abaixo que, ensino público não tem qualidade, e que devemos nos conformar com o que tem ai, já que não poderemos mudar o mundo. NÃO!! Acredito no que faço. Continuarei a fazer, tão somente, porque continuo sendo aluna, e como tal, aprendi que: “"Nenhum educador de mediano bom senso vai achar que a educação, por si só, liberta. Mas também não pode deixar de reconhecer o papel da educação na luta pela libertação."(Paulo Freire ).
Neste momento, me uno aos meus companheiros professores de Bezerros, que por aceitarem receber migalhas, decretaram GREVE naquele município, com apoio do SINPRO-PE. Aos companheiros da Bahia, que já soma mais de 40 dias de greve, por terem consciência de que não estão pedindo esmolas, mas lutando por um direito justo, inalienável!! Se ainda há alguém que acredita nisto, una-se a mim nesta luta. Não estaremos sozinhos. Temos ao nosso lado as maiores e melhores coisas que um ser humano pode ter: A VERDADE E A JUSTIÇA!!
*Arado é um instrumento que serve para lavrar (arar) os campos, revolvendo a terra com o objetivo de descompactá-la e, assim, viabilizar um melhor desenvolvimento das raízes das plantas.
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