Me fiz esta pergunta hoje, ao receber a noticia do falecimento de uma colega de trabalho, a Profª Maria Helena, ocorrido as 11 h da manhã.
Só tomei conhecimento do caso ao chegar na segunda escola em que trabalho, como segunda jornada, através da amiga Ana Marta. Estranhamente, não houve nenhuma manifestação no município, nenhum alarido, decreto de luto... nada. Enquanto a companheira de tantas jornadas, com quase 30 anos de exercício do magistério estava sendo sepultada, todas nós estávamos em sala de aula, para não trazer prejuízo ao calendário letivo dos alunos. (!!)
No ano passado, um fato nos chamou bastante atenção, quando em virtude da morte de uma aluna, houve decreto de luto de três dias, e curiosamente também não houve aula.
Não estou aqui levantando bandeiras para que o calendário não seja cumprido, mas depois de assistir a insistente campanha do MEC que tenta convencer a não sei quem, de que o professor é o profissional mais importante que existe no país (embora eu particularmente defenda essa ideia), deparo-me com situações como a de hoje, diante da perda de uma companheira, cuja ciência da morte só foi dada entre os conhecidos.
Escuto quase que diariamente meus alunos relatarem casos de sucesso de diversos conhecidos deles, que tem carro do ano, boa casa, vivem viajando e sequer terminaram o segundo grau... me perguntam com frequência: quanto a senhora ganha professora?
Políticos, chamados de autoridades, mesmo sendo tão geniais quanto Tiririca quanto ao grau de instrução, são reverenciados de tal forma, que as bandeiras ficam a meio mastro, o corpo é velado na Câmara de Vereadores, sai uma nota oficial decretando luto no município, estado ou país, e são enviadas centenas de coroas de flores para o funeral... E o professor??
Políticos, chamados de autoridades, mesmo sendo tão geniais quanto Tiririca quanto ao grau de instrução, são reverenciados de tal forma, que as bandeiras ficam a meio mastro, o corpo é velado na Câmara de Vereadores, sai uma nota oficial decretando luto no município, estado ou país, e são enviadas centenas de coroas de flores para o funeral... E o professor??
Não escutei tiros de canhão sendo disparados... não escutei uma nota de pesar...
Quanto vale um professor?
07/02/2011 - A educação no país vai mal e a situação salarial dos professores da rede pública também. A desvalorização do magistério se reflete na falta de interesse e rejeição dos estudantes à carreira em sala de aula. Na Universidade Federal de Santa Catarina, há pelo menos cinco anos, sobram vagas para os cursos de licenciatura.
Márcio Anisio Silveira, 45 anos, é professor de história e geografia da rede estadual, pós-graduado na área e pedreiro nas férias. O serviço no recesso escolar é para complementar a renda de educador. Ele é pai de quatro filhos e com o salário que recebe do Estado não consegue sustentar a família.
O professor de ensino fundamental e médio da escola estadual Tenente Almachio, no Bairro Tapera, em Florianópolis, mora na Praia do Campeche, e há anos trabalha nas férias. Até mesmo durante o ano letivo, faz uns bicos como pedreiro. Ele também deixa alguns instrumentos de obra no seu armário de professor, porque, às vezes, dá um jeito em algum problema de infraestrutura da escola.
– Ano passado, reboquei uma sala inteira, os alunos fizeram uma vaquinha para comprar as tintas e os pais pintaram.
Márcio ainda se desdobra em aulas. Costuma trabalhar 60 horas por semana. E o trabalho também é levado para casa, como as correções de provas e trabalhos e preparação de novas aulas.
Por ser pós-graduado e ter 22 anos de carreira, o salário dele é maior do de quem recebe o piso de Santa Catarina. Mas, garante que a diferença é mínima.
– Quem tem especialização, chega à conclusão de que não vale a pena fazer uma pós. O dinheiro que eles dão a mais não incentiva ninguém a buscar mais conhecimento.
Apesar disso, Márcio revela que ama o que faz. A vontade de ser professor vem desde criança, quando costumava ensinar os irmãos mais novos.
– Perguntam por que a gente não arranja outro emprego. Não queremos isso. Queremos ser valorizados, como já fomos um dia.
Diante do cenário, Márcio afirma que fica receoso em aconselhar alguém a ser professor. Mesmo assim, a filha mais velha dele passou para a faculdade de história na UFSC e quer seguir os passos do pai. A filha de 11 anos, que assistia à conversa, também já decidiu que será professora de história.
julia.antunes@diario.com.br
JÚLIA ANTUNES LORENÇO
Fonte: Diário Catarinense OnlineO professor de ensino fundamental e médio da escola estadual Tenente Almachio, no Bairro Tapera, em Florianópolis, mora na Praia do Campeche, e há anos trabalha nas férias. Até mesmo durante o ano letivo, faz uns bicos como pedreiro. Ele também deixa alguns instrumentos de obra no seu armário de professor, porque, às vezes, dá um jeito em algum problema de infraestrutura da escola.
– Ano passado, reboquei uma sala inteira, os alunos fizeram uma vaquinha para comprar as tintas e os pais pintaram.
Márcio ainda se desdobra em aulas. Costuma trabalhar 60 horas por semana. E o trabalho também é levado para casa, como as correções de provas e trabalhos e preparação de novas aulas.
Por ser pós-graduado e ter 22 anos de carreira, o salário dele é maior do de quem recebe o piso de Santa Catarina. Mas, garante que a diferença é mínima.
– Quem tem especialização, chega à conclusão de que não vale a pena fazer uma pós. O dinheiro que eles dão a mais não incentiva ninguém a buscar mais conhecimento.
Apesar disso, Márcio revela que ama o que faz. A vontade de ser professor vem desde criança, quando costumava ensinar os irmãos mais novos.
– Perguntam por que a gente não arranja outro emprego. Não queremos isso. Queremos ser valorizados, como já fomos um dia.
Diante do cenário, Márcio afirma que fica receoso em aconselhar alguém a ser professor. Mesmo assim, a filha mais velha dele passou para a faculdade de história na UFSC e quer seguir os passos do pai. A filha de 11 anos, que assistia à conversa, também já decidiu que será professora de história.
julia.antunes@diario.com.br
JÚLIA ANTUNES LORENÇO
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